Hernán Narbona
Um ar de nacionalismo econômico permeia os slogans com os quais Donald Trump construiu sua campanha eleitoral.
“Agora, os Estados Unidos estão em primeiro lugar” é o carro chefe de um país continente que alcançou o status de super potência e agora pretende fechar-se, definindo suas prioridades e relegando guerras preventivas e fiscalização internacional de interesses corporativos á segundo plano.
Trump entende, como bom empresário da economia real, o que significa guerrear contra a economia financeira internacional. Entende que o capital especulativo – flutuante, gerador de “bolhas” de valorização que depois explodem e criador de crises cíclicas que derrubam as indústrias de carne e aço – não faz bem ao Estado. Entende também que é necessário frear o apetite irracional de entidades financeiras, sempre em busca de ganhos permanentes e crescimento sem limites, para assim voltar as vistas do governo ao território e a nação, cuidando que maiorias marginalizadas pela globalização e empobrecidas pelas crises globais possam recuperar empregos, estabilidade e dignidade.
É certo que o linguajar de Trump é de um búfalo de smoking, sem nenhuma condescendência politicamente correta com os “diferentes” - de onde surgiu uma postura xenófoba diante da invasão de imigrantes e o tráfico ilegal de pessoas praticado pelos “Coyotes”, que vendem o sonho americano aos necessitados. Mas, por outro lado, está absolutamente certo que a vida para o cidadão comum norte americano – o “povão” - é hoje somente abandono, perda do bem estar típico e desemprego. De fato, para quem não alcança um padrão de classe média com bons seguros sociais, viver nos EUA hoje é uma realidade de neo-escravidão. Este modelo, neo liberal, é o mesmo aplicado pelo varejo com seus trabalhadores no Chile, por exemplo. Esta situação de abuso consentido está tocando fundo nos corações norte americanos e as últimas eleições revelaram o voto-castigo, punindo os criadores desta insegurança crescente que afeta os cidadãos locais. Como Trump está longe de ser um cientista político formado nas aulas da Trilateral Commission e sim um “self-made man” que ganhou a vida ao sabor dos seus esforços e oportunidades, ele sabe falar a mesma língua da grande massa de eleitores, já fartos do duplo padrão dos Democratas servidores das grandes corporações em seus negócios internacionais e esquecidos – ou descuidados – de seu próprio quintal.
A este povo, que assistiu a globalização econômica transplantar as fábricas que trabalhavam para a China, que permitiu ao gigante asiático integrar-se á organização Mundial do Comércio, que tolerou este novo sócio não cumprir a conduta de livre comércio e que terminaria por quebrar as indústrias americanas e européias com seus produtos oriundos do dumping laboral e ambiental, Donald Trump ofereceu um atalho: voltar a produzir nos Estados Unidos, com mão de obra americana.
Na verdade o atalho oferecido põe um freio á inércia global, onde os Estados Unidos e o ocidente suportaram a conduta da China porque seu crescimento sustentava o deficit das contas externas dos EUA e melhorava os indicadores do comércio global, altamente concentrado em multinacionais.
De fato, nestes modelos as corporações não pagam impostos: sonegam, já que canalizam seus lucros á paraísos fiscais sem que o país recupere sua parte no negócio. E os que mais perderam com este modelo foram os trabalhadores, sindicatos e a indústria local – a pequena e média empresa, sempre grande empregadora – que se viu forçada a demitir, internacionalizar-se e trazer lá de fora o que antes produzia nos Estados Unidos. E tudo isso na loucura de uma competição desigual de um mercado altamente concentrado.
Este fenômeno nos dá um esboço do que será a era Trump: reajuste das políticas públicas e limitação dos gastos no estrangeiro – bases militares, por exemplo. De forma inteligente este empresário – agora Presidente – procura aliar-se á Rússia para uma nova ordem de equilíbrio e colaboração diante de inimigos em comum, pragmatismo que desafogará os cofres públicos americanos.
O grande inimigo que Trump deverá neutralizar, entretanto, está em seu próprio quintal: a indústria bélica, que se desenvolveu ao longo das guerras preventivas – e das nem tanto assim – desde o Vietnam após o assassinato de Kennedy, em diante.
Trump deve se valer da perplexidade momentânea de seus adversários e, confiando num restrito círculo de colegas empresários e familiares, impor suas medidas de viés nacionalista. Na medida em que seus eleitores notem mudanças em seus estados e cidades, seu governo sairá fortalecido e toda a onda de protestos e oposição atuais serão totalmente esquecidos pelo Congresso.
É um cenário complexo para os analistas, mas certamente o é muito mais para o Pentágono e para a China, pois existem mudanças ainda no porvir que surpreenderão aqueles que tentam desenhar os próximos dias da era Trump.
Vizinhos que somos, deveremos nos manter atentos aos movimentos no tabuleiro deste xadrez.
“Agora, os Estados Unidos estão em primeiro lugar” é o carro chefe de um país continente que alcançou o status de super potência e agora pretende fechar-se, definindo suas prioridades e relegando guerras preventivas e fiscalização internacional de interesses corporativos á segundo plano.
Trump entende, como bom empresário da economia real, o que significa guerrear contra a economia financeira internacional. Entende que o capital especulativo – flutuante, gerador de “bolhas” de valorização que depois explodem e criador de crises cíclicas que derrubam as indústrias de carne e aço – não faz bem ao Estado. Entende também que é necessário frear o apetite irracional de entidades financeiras, sempre em busca de ganhos permanentes e crescimento sem limites, para assim voltar as vistas do governo ao território e a nação, cuidando que maiorias marginalizadas pela globalização e empobrecidas pelas crises globais possam recuperar empregos, estabilidade e dignidade.
É certo que o linguajar de Trump é de um búfalo de smoking, sem nenhuma condescendência politicamente correta com os “diferentes” - de onde surgiu uma postura xenófoba diante da invasão de imigrantes e o tráfico ilegal de pessoas praticado pelos “Coyotes”, que vendem o sonho americano aos necessitados. Mas, por outro lado, está absolutamente certo que a vida para o cidadão comum norte americano – o “povão” - é hoje somente abandono, perda do bem estar típico e desemprego. De fato, para quem não alcança um padrão de classe média com bons seguros sociais, viver nos EUA hoje é uma realidade de neo-escravidão. Este modelo, neo liberal, é o mesmo aplicado pelo varejo com seus trabalhadores no Chile, por exemplo. Esta situação de abuso consentido está tocando fundo nos corações norte americanos e as últimas eleições revelaram o voto-castigo, punindo os criadores desta insegurança crescente que afeta os cidadãos locais. Como Trump está longe de ser um cientista político formado nas aulas da Trilateral Commission e sim um “self-made man” que ganhou a vida ao sabor dos seus esforços e oportunidades, ele sabe falar a mesma língua da grande massa de eleitores, já fartos do duplo padrão dos Democratas servidores das grandes corporações em seus negócios internacionais e esquecidos – ou descuidados – de seu próprio quintal.
A este povo, que assistiu a globalização econômica transplantar as fábricas que trabalhavam para a China, que permitiu ao gigante asiático integrar-se á organização Mundial do Comércio, que tolerou este novo sócio não cumprir a conduta de livre comércio e que terminaria por quebrar as indústrias americanas e européias com seus produtos oriundos do dumping laboral e ambiental, Donald Trump ofereceu um atalho: voltar a produzir nos Estados Unidos, com mão de obra americana.
Na verdade o atalho oferecido põe um freio á inércia global, onde os Estados Unidos e o ocidente suportaram a conduta da China porque seu crescimento sustentava o deficit das contas externas dos EUA e melhorava os indicadores do comércio global, altamente concentrado em multinacionais.
De fato, nestes modelos as corporações não pagam impostos: sonegam, já que canalizam seus lucros á paraísos fiscais sem que o país recupere sua parte no negócio. E os que mais perderam com este modelo foram os trabalhadores, sindicatos e a indústria local – a pequena e média empresa, sempre grande empregadora – que se viu forçada a demitir, internacionalizar-se e trazer lá de fora o que antes produzia nos Estados Unidos. E tudo isso na loucura de uma competição desigual de um mercado altamente concentrado.
Este fenômeno nos dá um esboço do que será a era Trump: reajuste das políticas públicas e limitação dos gastos no estrangeiro – bases militares, por exemplo. De forma inteligente este empresário – agora Presidente – procura aliar-se á Rússia para uma nova ordem de equilíbrio e colaboração diante de inimigos em comum, pragmatismo que desafogará os cofres públicos americanos.
O grande inimigo que Trump deverá neutralizar, entretanto, está em seu próprio quintal: a indústria bélica, que se desenvolveu ao longo das guerras preventivas – e das nem tanto assim – desde o Vietnam após o assassinato de Kennedy, em diante.
Trump deve se valer da perplexidade momentânea de seus adversários e, confiando num restrito círculo de colegas empresários e familiares, impor suas medidas de viés nacionalista. Na medida em que seus eleitores notem mudanças em seus estados e cidades, seu governo sairá fortalecido e toda a onda de protestos e oposição atuais serão totalmente esquecidos pelo Congresso.
É um cenário complexo para os analistas, mas certamente o é muito mais para o Pentágono e para a China, pois existem mudanças ainda no porvir que surpreenderão aqueles que tentam desenhar os próximos dias da era Trump.
Vizinhos que somos, deveremos nos manter atentos aos movimentos no tabuleiro deste xadrez.
Hernán narbona é administrador,
especialista em negociações internacionais
e publica artigos em sua página, no Chile.
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