Nulla Sallus Extra Christo
Até o momento e já decorridas mais de seis horas da eleição do novo Papa Francisco, nenhum blog da região comentou o fato nem teceu considerações sobre padres, batinas, missas ou outros quetais. Assim sendo, o OPINIÃO se adianta e resolve, através de seu editor, dar palpite mesmo sem ter sido perguntado. Como sempre, aliás.
Tá certo que um dos poucos prazeres que nos restam aos 50
anos de idade é sacanear argentino, mas no momento em que um hermano recebe uma procuração para
assinar em nome de Deus aqui embaixo, até por uma questão de prudência
elementar é bom ponderarmos alguns pontos, bastante favoráveis á Igreja
Católica:
A) Conservadorismo e resistência ás mudanças do
mundo
Quem, em sã consciência poderia – vivendo no
mundo pelos idos da década de 60/70 – prever tamanho retrocesso da sociedade em
termos de conceitos morais, preconceitos, reacionarismo, hipocrisia social e
fundamentalismo religioso? A Igreja Católica não aderiu aos moderninhos flower Power
e muito menos aos hedonistas das discotecas. E o tempo mostrou o acerto da sua
posição, já que estamos hoje próximos de queimarmos mulheres nas fogueiras como
bruxas e declararmos livros como malditos, em algum obscuro Index digital.
B) Falta de transparência em suas administrações e
na vida de seus membros
Padre não é Celebrity nem participa de Big
Brother. Há que se manter um recato, ainda que alguns doentes se valham disso
para perpetrar monstruosidades. O caso é que de tal maneira nos acostumamos a
ver vidas alheias devassadas ao nível do voyerismo exponencial, que ao recebermos
reações contrárias á nossa bisbilhotice adquirida, enxergamos o recato
esquecido como arrogância e obstrução ao nosso direito á informação. Igualmente
igreja não é empresa (ao menos a Católica), não possui um quadro de acionistas
e se em dado momento imiscuiu-se em sociedades espúrias e estranhas aos seus
propósitos, a conta deve ser debitada á falibilidade de religiosos com este
mesmo pensamento progressista.
Eclesiásticos que preservam a si e ao recato eclesiástico deveriam ser a regra
em um mundo cada vez mais invasivo da privacidade alheia.
C) Vista grossa á ramificações internas rotuladas
como linha dura, tal como Opus Dei e
outras, tidas como reacionárias e contrárias
aos interesses do povo.
Tudo bem que não há nenhum santinho nesse
meio, mas a argumentação contrária já sai de fábrica prenhe de conceitos
políticos esquerdizantes, divergentes como água e óleo na medida em que querem cristianizar Karl Marx e marxizar Jesus. Fé e política não se
misturam e padres de passeata esquecem-se de seu rebanho para concentrarem-se
em sua massa. Qualquer Papa que
afugente este pensamento deve ser visto como um defensor dos dogmas, e não das
ideologias. E esta é sua profissão de fé.
D) Falta de comunicação com os fiéis, e consequente
perda dos mesmos.
Missa ou show? Jesus já dizia que a fé é
uma manifestação íntima, mística, e o mais próximo disso que hoje se consegue é
a catarse coletiva de algumas cerimônias religiosas – quase sempre com mais de
dois mil presentes. É o crente quem deve buscar a salvação, ou a mesma deve ser
oferecida como o remédio que transcende. A Igreja Católica ainda se aferra em
tratar de almas e não de bolsos. Se isso não comove pessoas cada vez mais
embrutecidas, talvez seja a apostasia geral profetizada no Apocalipse. Mais uma
vez a lentidão da Igreja trabalha á seu favor, pois os anos mostrarão o erro
dos mega-templos. Quem sabe eu viva ainda para assistir esta auto crítica da
humanidade, desta vez em dimensões cósmicas!
Walter Biancardine