Sobre política e
avestruzes
Aqueles que ouviram o
rádio hoje certamente sentiram-se abençoados pelas cândidas
declarações de conhecido político, humilhantemente derrotado nas
urnas e no tapetão, segundo as quais ele iria ficar quietinho depois
de tudo o que passou.
O radialista, demagogo
incorrigível e que breve acrescentará o título de “adesista”
ao seu extenso currículo babaovista, perguntou ao acima referido se
“ainda caberiam recursos após a derrota de ontem”.
Ora, a pergunta só
denota duas hipóteses: ou uma profunda deficiência neuronial ou uma
má-fé retumbante.
A deficiência
neuronial é suposta por ser de uma obviedade indecente que, a partir
do momento em que os recursos do indigitado sequer foram conhecidos
pela Corte, não haveria com o quê recorrer no STF. Não bastasse, a
sede de poder do grupo expôs – às claras – as manobras
políticas que enlamearam a reputação do TRE-RJ, ao “esticar
demais a corda”, segundo o Ministro Marco Aurélio de Mello, e
produzindo uma verdadeira “teratologia” jurídica, segundo a
Ministra Luciana Lossio. Ou seja, mais um tiro no próprio pé, do
grupo.
Já a má-fé
retumbante – de ambos – é perfeitamente cabível pela resposta
dada ao radialista, pelo derrotado: “Meu profundo amor por esta
cidade me impede de lançá-la em mais incertezas políticas como
foram os últimos anos, por isso não recorrerei.”
Que nobre! Que coração
bom!
Ou seja: toda a
grandeza d'alma do derrotado resume-se ao fato – intransponível –
de que não há mais como apelar, protelar, engambelar e enganar.
Como não tem mais saída, traveste seu ódio impotente como “amor
pela cidade”. É o paroxismo da cara de pau, elevado à enésima
potência!
Estejam certos amigos
leitores, que enormidades como essa ainda serão muito,
demasiadamente ouvidas e lidas pela cidade, nos próximos meses:
gente dizendo que, “graças ao derrotado, a cidade respira
tranquila, sem as incertezas dos últimos anos”. É de dar nojo,
mas tal prosa não durará muito tempo, pois a necessidade baterá à
porta.
E quando isso acontecer
– que será logo – o teor das declarações mudará um pouco.
Alguns, com uma visão maior à longo prazo, inclusive já adotaram a
outra vertente do imundo script.
Jornalistas,
radialistas, blogueiros, políticos, cabos eleitorais, detentores de
portarias, empresários, artistas e mesmo gente que não faz coisa
nenhuma além de pendurar-se no saco do mais forte envergarão o
discurso polido, cavalheiresco e politicamente correto – que suas
calhordices não passaram de “regras do jogo, nada pessoal” -
como ponte para a tentativa desesperada de aderirem ao grupo vencedor
e lá continuarem a desfrutar de suas boquinhas.
Mais do que forças
para o hercúleo trabalho de reconstruir a cidade que Memê devastou,
Alair precisará de muito estômago para aguentar esse tipo de gente.
Aguentar sim, pois como o próprio derrotado – e seus apaniguados –
bradam, ele será o prefeito de todos os cabo frienses. Inclusive
deles, também.
Não era à toa que ele
criava avestruzes, pois na política ou você engole muito ou enterra
a cabeça na areia e finge que não vê.
Simbolismo perfeito!
Walter Biancardine