quarta-feira, 5 de dezembro de 2012



Sobre política e avestruzes

Aqueles que ouviram o rádio hoje certamente sentiram-se abençoados pelas cândidas declarações de conhecido político, humilhantemente derrotado nas urnas e no tapetão, segundo as quais ele iria ficar quietinho depois de tudo o que passou.
O radialista, demagogo incorrigível e que breve acrescentará o título de “adesista” ao seu extenso currículo babaovista, perguntou ao acima referido se “ainda caberiam recursos após a derrota de ontem”.
Ora, a pergunta só denota duas hipóteses: ou uma profunda deficiência neuronial ou uma má-fé retumbante.
A deficiência neuronial é suposta por ser de uma obviedade indecente que, a partir do momento em que os recursos do indigitado sequer foram conhecidos pela Corte, não haveria com o quê recorrer no STF. Não bastasse, a sede de poder do grupo expôs – às claras – as manobras políticas que enlamearam a reputação do TRE-RJ, ao “esticar demais a corda”, segundo o Ministro Marco Aurélio de Mello, e produzindo uma verdadeira “teratologia” jurídica, segundo a Ministra Luciana Lossio. Ou seja, mais um tiro no próprio pé, do grupo.
Já a má-fé retumbante – de ambos – é perfeitamente cabível pela resposta dada ao radialista, pelo derrotado: “Meu profundo amor por esta cidade me impede de lançá-la em mais incertezas políticas como foram os últimos anos, por isso não recorrerei.”
Que nobre! Que coração bom!
Ou seja: toda a grandeza d'alma do derrotado resume-se ao fato – intransponível – de que não há mais como apelar, protelar, engambelar e enganar. Como não tem mais saída, traveste seu ódio impotente como “amor pela cidade”. É o paroxismo da cara de pau, elevado à enésima potência!
Estejam certos amigos leitores, que enormidades como essa ainda serão muito, demasiadamente ouvidas e lidas pela cidade, nos próximos meses: gente dizendo que, “graças ao derrotado, a cidade respira tranquila, sem as incertezas dos últimos anos”. É de dar nojo, mas tal prosa não durará muito tempo, pois a necessidade baterá à porta.
E quando isso acontecer – que será logo – o teor das declarações mudará um pouco. Alguns, com uma visão maior à longo prazo, inclusive já adotaram a outra vertente do imundo script.
Jornalistas, radialistas, blogueiros, políticos, cabos eleitorais, detentores de portarias, empresários, artistas e mesmo gente que não faz coisa nenhuma além de pendurar-se no saco do mais forte envergarão o discurso polido, cavalheiresco e politicamente correto – que suas calhordices não passaram de “regras do jogo, nada pessoal” - como ponte para a tentativa desesperada de aderirem ao grupo vencedor e lá continuarem a desfrutar de suas boquinhas.
Mais do que forças para o hercúleo trabalho de reconstruir a cidade que Memê devastou, Alair precisará de muito estômago para aguentar esse tipo de gente. Aguentar sim, pois como o próprio derrotado – e seus apaniguados – bradam, ele será o prefeito de todos os cabo frienses. Inclusive deles, também.
Não era à toa que ele criava avestruzes, pois na política ou você engole muito ou enterra a cabeça na areia e finge que não vê.
Simbolismo perfeito!

Walter Biancardine