Muitos estranharam o silêncio do Jornal Opinião no decorrer da realização dos três pré-fóruns de cultura em Cabo Frio, e desde já adiantamos que o mesmo foi deliberado e pensado friamente.
Esta decisão se deu durante a realização do primeiro destes eventos, ao observarmos a disposição de confronto, exibida por um dos participantes de grupo oposicionista – tão evidente que questionou o direito á voz de um participante, perguntando se o mesmo era servidor concursado (o que de nenhuma forma era pré requisito para participação) além de suas constantes intervenções durante a leitura do esboço de regimento.
Nossa decisão foi óbvia: se expuséssemos as verdadeiras intenções daquele grupo em tumultuar, desacreditar e tentar impor suas demandas á força naqueles dias, tal fato só aumentaria o desejo de seus integrantes em conflitar, o que sob nenhum aspecto seria produtivo nem democrático.
Cabe aqui ressaltar que os extensos monólogos deste grupo só foram permitidos pela passividade e omissão da maioria dos presentes, que calou-se e preferiu a comodidade de reclamar depois.
Igualmente é necessário louvar a paciência, jogo de cintura e diplomacia do mediador, Yuri Vasconcellos, e do Secretário de Cultura José Facury os quais, com paciência infinita e através de respostas calmas e apaziguadoras, desmontaram o plano de tumulto arquitetado por apenas quatro elementos, que se acham no direito de impor suas vontades nos rumos da cultura de toda uma cidade.
A dinâmica:
Se todas as três edições do Pré Fórum tiveram algo em comum, foi a absoluta omissão de 80% dos presentes.
Em uma classe conhecida pela capacidade de discutir, conceituar e debater horas á fio sobre qualquer tema, o silêncio no auditório do Teatro Municipal foi, no mínimo, revelador. O grupo formado por adversários da atual gestão da Cultura em Cabo Frio dominou as falas e, se não emplacou de todo suas proposições, isso deveu-se ao fato de que muitas delas eram absurdas, outras apenas armadilhas contra a administração ou absolutamente inócuas. Poucas foram, de fato, consideradas contribuições válidas ao regimento objeto do evento.
A omissão de grande parte dos participantes mostrou, de maneira evidente, que os mesmos estão divididos em duas partes: metade pouco se importa e lá compareceu apenas para mostrar engajamento.
A outra metade, na melhor das hipóteses, nada conseguiu elaborar de construtivo ao debate e acreditou que o circo pegaria fogo – o que não aconteceu.
Os “Contra”:
Há quem ainda pense que quatro cabeças, as quais pretendem impor suas ambições ao governo municipal, são absoluta e totalmente contrárias á proposta da criação da Fundação Municipal de Cultura. Ledo engano. A Fundação, na verdade, é um verdadeiro presente para olhos cobiçosos de autonomia na gestão do dinheiro.
O que eles querem é a Fundação em conjunto com a manutenção da Secretaria de Cultura.
E por quê? Porque dois órgãos comportariam, em condições de igualdade no status, duas cabeças que não se enxergam como nada menos que líderes.
Aliado á isso, presumem que a manutenção da Secretaria – por si só – seria uma derrota política para o Prefeito Alair Corrêa e uma verdadeira carta de demissão do atual Secretário, José Facury.
Para tanto, se empenharam em proposições que ultrapassavam, em muito, o caráter avaliador de um Fórum de Cultura e mais se assemelhavam á uma CPI ou auditoria da atual gestão, resultando em um regimento que mais parece um contrato de locação – mal feito e leonino – tantas são as cláusulas e “letras miúdas”.
A “Emenda Tarja Preta”:
Assim ficou conhecida uma proposição que, resumidamente, pretende criar uma comissão para “avaliar” os resultados da atual gestão, bem como produzir um relatório completo dos equipamentos culturais do município e apontar suas deficiências, tudo isso sob essa ótica e com esta mesma comissão concluindo o relatório.
Mais que uma CPI, mais que uma auditoria, mais que um veredito: tal emenda traduz, com perfeição, o caráter persecutório e antagonista da participação do grupo aparentemente “contrário” á extinção da Secretaria de Cultura. E se o leitor pensa que tal proposição foi recusada, engana-se: poucos, como o sambista Marcos Chaves – uma das poucas vozes combativas e participativas sem ambições ocultas – levantaram-se contra e assim tal excrescência acabou sendo aprovada, com o beneplácito silencioso da maioria. (*)
Discutindo o que já discutiu:
Para piorar, o já citado grupo conseguiu implantar o que, talvez, tenha sido o maior dos absurdos propostos: a rediscussão do modelo de gestão da Cultura – em miúdos, novamente o batido tema entre secretaria ou fundação. E sequer foram capazes de corar com o fato de que tal proposta já fora aprovada no primeiro Forum, ignorada no segundo (ou seja, ponto aceito) e apenas agora lembrada, exclusivamente por ambições particulares.
Tamanha é a pretensão deste grupo que o mesmo acredita possuir o poder de manipular um governo, demandar o Chefe do Executivo como crianças birrentas (“queriamos Fundação, agora não queremos mais!”) e sequer se importam com a imagem da própria classe diante de tamanha leviandade.
Concluindo o horror:
Cabem as devidas congratulações á disposição democrática e á boa fé da Secretaria de Cultura de Cabo Frio, bem como á tolerância e gentileza de todos os envolvidos na realização destes preparatórios. Os mesmos cumpriram seu dever e, de nenhuma forma, tem responsabilidade sobre o resultado, já que demonstraram claramente o caráter democrático da organização e condução do evento.
Igualmente fica claro que um pequeno grupo tem a certeza de que tudo o que fizeram já foi esquecido – desobediência civil, página de apoio á uma secretaria de cultura paralela com perfis acrescentados á revelia e sem autorização, petições fraudulentas, intrigas políticas – bem como evidencia que seus reais objetivos resumem-se á uma só coisa: o poder. Tornou-se óbvio que desejam a deposição de um Secretário apenas porque o mesmo não compartilha de seus meios e métodos na pasta, os quais foram exaustivamente conhecidos ao longo de oito anos.
Do mesmo modo, evidenciou-se que fingem lutar pela manutenção da Secretaria de Cultura mas aceitariam, “docemente constrangidos”, a criação de uma Fundação – duas boas cadeiras para nádegas ambiciosas sentarem.
Tal grupo executa um complicado minueto: é, visceralmente, opositor ao Prefeito Alair Corrêa mas em hipótese nenhuma o critica – afinal, ambiciona juntar-se ao poder. Do mesmo modo, ataca ferozmente a idéia de extinguir a secretaria mas pouco fala sobre a criação de uma fundação – pois querem ambas.
De líquido e certo, apenas uma intenção é revelada a quem quiser prestar um minuto de atenção: depor, á qualquer custo, o atual Secretário de Cultura – pois o fim do mês está chegando, as contas estão vencendo, as ambições e vaidades ofendidas são muitas e, eles bem sabem, existem pegadas que devem ser apagadas.
(*) NOTA DO REDATOR - em 18/06: Com base no recém divulgado Regimento, aprovado no III Pré Fórum de Cultura, verificamos que a "Emenda Tarja Preta" foi aprovada apenas em parte, pois a "Comissão Avaliadora" que constava na proposta não vingou.
Walter Biancardine
Foto: Álvaro Neves