quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O DESTINO DO BRASIL É A GRANDEZA


Uma quartelada promovida por um Exército em férias, que se deixou levar pela soberba da vitória na guerra do Paraguai, aliada ao chifre queimado de um marechal e aos interesses de acadêmicos bem-nascidos, em sua maioria filhos de fazendeiros furiosos com a abolição da escravatura: este é o resumo do evento lembrado pelo feriado do dia de hoje, a proclamação da república.


É inegável a ilegitimidade do verdadeiro ato de traição cometido pelo marechal Deodoro contra seu amigo pessoal, Sua Alteza Dom Pedro II, bem como a vileza daqueles que o aliciaram e secundaram em tal movimento – de tal sorte ilegítimo e elitista que apenas meia dúzia de gatos pingados testemunharam o trôpego militar proclamá-la, bem como durante quase duas décadas depois ainda haviam muitas pessoas, nos rincões mais distantes do Brasil, que sequer sabiam que o Império Brasileiro havia caído.

Não cabe a nós, entretanto, remoermos trapaças cometidas 130 anos atrás – verdadeira “dívida histórica” que faz sentido reclamar – mas realçarmos a completa inadequação do regime republicano à índole do brasileiro médio. 

Em que pese havermos tido alguns poucos bons presidentes, a boa conduta ou administração destas exceções não significa o acerto da imposição republicana sobre toda uma nação, vitimada por sucessão de golpes e corrompida no populismo desenfreado que se tornou, desde o dia primeiro deste sistema, nossa triste rotina.

O sistema de governo de um país exala do temperamento de seu povo. Seria impensável uma monarquia norte americana, por exemplo – talvez um dos poucos países desenvolvidos completamente inadequados a este regime. Sobre isso não pesa nenhuma crítica ou elogio ao caráter do americano médio e sim a constatação que o fator histórico dos pioneiros que desembarcaram do navio Mayflower buscaram novas terras justamente por não concordarem com a monarquia britânica.

A constatação dos fatores históricos em terras brasileiras, porém, é outra – e igualmente esclarecemos que não se trata de crítica ou elogio ao brasileiro médio. 

Os norte americanos fundaram um país que seria seu novo lar, sua nova pátria. Já os brasileiros que para cá vieram assim o fizeram para empreender, explorar e fazer dinheiro na nova descoberta, que apenas ampliava a extensão das terras portuguesas e nunca encaradas como “um novo país”. Ora, quando reunimos desbravadores e empreendedores nos confins mais distantes de uma nação, é imprescindível um poder moderador que refreie a cobiça e disputa comercial alheia ao conceito de “nova pátria”, já que se consideravam ainda no mesmo Portugal.

E sob tal niilismo patriótico mais de dois séculos transcorreram. O Brasil só deu seus primeiros sinais de se perceber como um “país” por ocasião da Inconfidência Mineira, a qual inevitavelmente desembocou na independência. Mas, por então, a formação e o caráter dos aqui nascidos já estava esculpido de maneira indelével, e balizada pela segurança de haver um moderador, alguém acima das disputas comerciais ou políticas e que simbolizou, até o funesto 15 de novembro de 1889, o verdadeiro fiador de nossa eternização como pátria. Com este fiador deposto, estavam abertos os caminhos para a ganância sem pátria, para a ambição sem limites e para a política acima das leis.

O sentimento monárquico, presente desde o berço nos brasileiros, é objeto de implacável e constante perseguição e ridicularização desde os primeiros anos do século XX, já que um Imperador significa ponderação, limites, pátria, família e liberdade – tudo isso sempre acima do natural mas perigoso desejo do “agir sem regras”, disfarçado sob o belo nome de “liberdade”.

No país do “Rei Pelé”, do “Rei” Roberto Carlos, de um craque “Imperador”, de Ayrton Senna “Rei da Chuva” e até da Xuxa “Rainha dos Baixinhos”, a verdadeira vocação brasileira renasce, apenas aguardando que percamos a vergonha de nos declararmos monarquistas, tal como perdemos de dizer-nos conservadores.

Nós e o Brasil merecemos dias melhores.