domingo, 16 de setembro de 2012



O sonho acabou

Um triste e inglório réquiem para a geração que acreditou no sonho, que quis mudar o mundo e que orgulhava-se de ser diferente de seus pais.
Aconselharam a não confiar em ninguém com mais de trinta anos, esquecendo-se que eles próprios corriam o risco de envelhecer.
Proclamavam que queriam uma casa no campo, seus discos e livros, e nada mais. Mas fizeram as melhores cabeças quererem ideologias, quererem uma pra viver.
Não se agradavam do dinheiro, não. Mas foram os responsáveis pelo maior escândalo de corrupção e roubo, na história republicana deste país.
Houve uma época em que aconselhavam cuidado. Foram vencidos, e o sinal estava fechado para eles, que eram jovens. E somente para abraçar seus irmãos e beijar suas meninas nas ruas é que se fizeram seus braços, seus lábios e suas vozes.
Mas já então, tantos anos atrás, um visionário intuía que seus ídolos ainda eram os mesmos, e as aparências jamais enganaram.
E sofreu a dor de perceber que, apesar de terem feito tudo o que fizeram, ainda eram os mesmos e viviam como seus pais.
Agora, nas barras da mais alta Corte de Justiça da nação, compreendem que seus sonhos eram apenas a mais vil cobiça e ânsia de poder.
Que suas consciências possam, um dia, encontrar descanso do remorso de terem iludido e tripudiado dos sonhos, do sangue e da honra de toda uma geração de brasileiros, uma das poucas que realmente lutou e acreditou em algo – agora rifado de suas biografias, restando apenas um buraco na história de cada um.
Buraco este do tamanho de uma vida, e que jamais poderá ser remendado por nada além do conformar-se e esquecer.
No mensalão tornaram-se réus não apenas de maracutaias, mas principalmente culpados – até a máxima instância – do maior estelionato ideológico que se tem notícia.
É a morte do mito. O fim do culto à personalidade. Que Deus os absolva, desejaria.
Mas – os deuses não morreram? Então, nem mesmo o conforto do ópio popular restará a eles.
Mataram os deuses sem terem se tornado super-homens.
Triste fim.

Walter Biancardine