Em novembro de 2009 chegava ás bancas o primeiro número do Jornal Opinião, com a proposta - já naquela época - de jogar um pouco de ar fresco em um momento da sociedade que, infelizmente, perdura até hoje: são os dias cinzentos, os quais ainda vivemos sob um moralismo hipócrita e filho desvirtuado dos ensinamentos religiosos. O resultado disso já alertávamos na ocasião: censura, e é o que ocorre hoje na prática - batizada por nós de "censura danomoralista", onde calam-se as vozes discordantes através dos Tribunais e sob perfeita aparência legal. Na atual conjuntura, onde até anúncios de fraldas infantis sofrem a indefectível tarja embaçada por sobre os pobres piu-pius das crianças, cremos ser - mais do que nunca - válido o brado de alerta de nosso entrevistado, o qual reproduzimos aqui por homenagem ao seu aniversário de 79 anos.
Serguei:
“Nunca
fomos
tão
caretas”
Uma
conversa
descolada
sobre
um
mundo
cinza
Serguei
filosofa
e
diz
que
a
sociedade
regrediu
Foi
preciso a revolução dos costumes feita na década de sessenta e um
governo civil tomando posse nos anos oitenta para que muitos jovens
atuais passassem a usar os cabelos com corte militar. Foi preciso uma
onda mundial de “fazer pelas próprias mãos”, o artesanato, a
plantação de comida e as comunidades para que o sistema se sentisse
profundamente ameaçado e criasse os “hippies de boutique”, logo
depois os “youppies” e fizesse com que hoje a maioria da
juventude elegesse o dinheiro, o consumismo e a carreira como
aspírações supremas. Foi preciso surgir o amor livre para que
parcela significativa dos recém saídos da adolescência optasse –
por livre e espontânea vontade – pela virgindade até o casamento
e resgatassem hábitos machistas .
Foi
preciso o fim do sonho comunista para que quase a totalidade destes
mesmos jovens enxergasse a política sob uma ótica cada vez mais
reacionária e descrente, travestida de pragmatismo.
Vivendo
em um mundo onde o lema “Paz e Amor” desperta nas pessoas apenas
sorrisos condescendentes de quem escuta uma utopia enquanto procuram
se desviar de balas perdidas e gangues espancando inocentes em
boates, Serguei – um verdadeiro retrato congelado de uma época –
se espanta e abre o verbo sobre o que acha desta juventude, que um
dia tentou mudar o mundo e hoje acha normal linchar garotas por
considerarem suas roupas “indecentes”.
Com
vocês leitores, o garotão Sérgio Augusto Bustamante, 76 aninhos
mas com um corpinho de 75 e a disposição, energia, indignação e
sonhos dos vinte e poucos anos; o conhecidissimo Serguei, que hoje
ostenta o honroso título de lenda viva do Rock nacional.
Caretice geral: o
computador
Serguei:
“O bacana de você andar assim, conhecer uma pessoa, é andar pelas
ruas, você não foi apresentado mas você bate os olhos, eles se
comunicam, a emoção vem, entendeu?, na hora, assim: então você
fala, você se abre...essa garotada é incapaz de falar, eles já
perderam isso. Para tudo eles usam o quê? Um computador. Querem dar
uma trepadinha, vão trepar com o computador...querem chorar, choram
vendo as coisas do computador, querem rir...pô, o riso, o sorriso, a
lágrima, tudo isso é emoção...a expressão facial, que não têm
nenhuma. Pô, eu falo, digo isso assim, assim e assim (gesticula)
e...outro dia eram quatro rapazes e eu fiz assim (bate palmas): -
Hei! Falei: “Bicho, vocês só fazem assim (balança com a cabeça
positivamente e negativamente)? Aí um sujeito atrás disse: eu sou o
pai deles, você não sabia que essa geração é assim, Serguei? Eu
disse: infelizmente, entendeu? Não há mais nada praticamente a se
fazer, depois do que foi feito na década de sessenta. Você tinha a
liberdade de tomar decisões.”
Caretice geral 2:
look e comportamento
Serguei:
“Voltaram a cortar os cabelos fazendo o pé...não há nada mais
nojento do que isso. Engraxam os sapatos, fazem vinco nas calças!
Bicho! E dizem que são envergonhados: ah, ele é tímido! Tímido é
o c*lho! Pergunta se na hora em que estão dando o c* lá ou fazendo
qualquer sexo, ou comendo ou que diabos que seja, não interessa,
pergunta se eles são tímidos! Aliás (risos), eu tenho provas de
que, de tímidos, eles não tem nada...teve um sujeito um dia que
chegou pra mim e disse: 'Serguei, quero te chupar'! Eu disse, 'tudo
bem mas outro dia, outra hora porque agora estou correndo pra pegar o
ônibus'! Dois dias depois ele me achou de novo, e insistiu com os
olhos arregalados: 'Vem cá, você come c*?' Respondi: 'Olha, eu como
alface, como manga – que eu adoro manga – sorvete...' (risos).
Pra você ver como eles são diretos agora. Dão beijos na boca, isso
é ótimo...escandalosamente! Eu fiz um show na Up, lá em Campo
Grande, no Rio de Janeiro, e estava cantando no palco, pulando e
tal...quando eu estava saindo, um cara sentado numa mesa com garotas,
garotões, jogou a cabeça assim pra trás e me pediu: 'Serguei! Me
dá um beijo na boca!'. Depois, no camarim, ele voltou pra pedir um
beijo mais legal...quer dizer, não tem mais o chaveco, perderam
isso, que era o principal. Hoje é mecânico, direto.”
“Todo
mundo gosta de sexo,
bicho.
Não
tem um que não goste!”
Sexo:
Serguei:
“Eu tô numa forma física, por assim dizer, esplendorosa. Eu conto
essas sacanagens e me excito, tu acredita nisso? (bate na madeira)
Agora, eu acho isso um exagero. Não é um exagero? Eu acordo de
manhã, às vezes até de madrugada, naquele estado. Vou até lá
fora, olho pra um lado, olho pro outro, ninguém! Digo: pô, que
merda! Aí volto e tenho que dar meu jeito (risos). Quer dizer, acho
que tô mais do que legal! Todo mundo gosta de sexo, bicho. Não tem
um que não goste de sexo! Se bem que hoje tem esse tal de sexo
virtual, no computador. É tão horrível que não merece...não
tenho nem opinião pra definir isso! Bicho, é melhor o sexo por
telefone, porque pelo menos você escuta a voz, e tal...pra você
ver: um dia eu vinha andando, um sol quente, e tinha um cajueiro na
beira do caminho. Me deu um tesão, meu (*) levantou, queria fazer
alguma coisa com alguém e não encontrava – não passava
ninguém...passou um cachorro velho, mas eu não ia comer o cachorro,
pô. Aí eu ia andando e encostei numa árvore – o cajueiro,
grande, frondoso. Aí tirei pra fora e comecei sozinho. Na hora de
gozar, a perna tremeu e eu me abracei ao cajueiro. Onde eu ia me
agarrar? Me agarrei na árvore! Aí, na entrevista que dei ao Jô
Soares, ele perguntou: 'Bom, então você comeu a árvore?' Aí eu
disse assim: 'É Jô, comí...' A pergunta merecia essa resposta. E
eu ironizo tudo, mesmo...no Brasil, se não ironizar ninguém
aguenta. Se não ironizo, tô f*dido, vou ficar doente.”
Drogas:
Serguei:
“Droga é uma droga, uma merda...você fica com os olhos inchados,
vermelhos, você fica rindo à toa, que nem um babaca, o outro com o
olho arregalado, com a bunda pra dentro... 'é...qualé...o que
é...?' Bicho, eu não tenho como falar disso. Eu dei um esporro na
Janis (Joplin) uma vez...ela tava no banheiro, cantando...aquela voz
que todo mundo conhece, e com a mesma emoção. Quando ela saiu, nua
com uma toalha jogada no ombro, ela abriu a porta e eu disse: 'Vem
cá, tô aqui observando você o tempo todo, te ouvindo. Que
maravilha...mas por que você usa essas merdas? Isso vai levar você
muito cedo do convívio da gente'. Ela olhou pra mim e disse assim:
'Sergei, nobody plays that game on me', ou seja, 'ninguém me força
o jogo', por assim dizer. ( N. do R: 'Ninguém faz esse joguinho
comigo') Eu disse, 'você sabe o que faz, então f*da-se'. E
aconteceu o que aconteceu...”
(pequena
pausa para um cochilo de alguns minutos do entrevistado)
“Bicho,
cuidado comigo que as vezes eu durmo...eu ontem fiquei dois dias sem
dormir. Tava falando com a Beth, minha amiga, pelo telefone. Estava
sentado naquela cama, que é no chão, e enquanto eu falava, cochilei
e batí com a cabeça no chão.”
Rock
and Roll:
Serguei:
“O Rock começou na minha vida ainda nos anos 50. Estive em Paris,
conheci Juliette Grécou, sabia o que estavam dizendo dela, que ela
era escriturária e saía que nem uma louca depois do serviço com
uma porção de rapazes e moças, todos vestidos de preto, iam pros
porões do Quartier Latin tomar drink, tomar café, eram os beatniks
(N. do R: Juliette Grécou foi uma cantora francesa que se tornou uma
espécie de “musa” dos existencialistas, tendo se apresentado
inclusive no Brasil), e depois dos beatniks vieram os hippies. E aí
eu me encontrei.”
Rock
and Roll 2: o Templo
Serguei:
“A casa antiga não era minha, era de um cara daqui, comerciante, e
quem me deu essa nova aqui foi Russel Coffin, um dos grandões da
Coca-Cola no mundo. É um cara com dinheiro, tem como fazer, trabalha
com ecologia, pássaros, florestas, tem vários hectares na floresta
em Santa Catarina, que ele protege. Essa casa aqui ele que mandou
construir pra mim, tudo à prova de som, tudo. A prefeitura na época
deu o terreno e ele mandou construir. No dia da inauguração eu ví
ele com milhões de papéis, assinando aqui, alí, e disse que a casa
é minha. Eu disse, 'então tá bom'. Se alguma coisa estranha
acontecer, eu daquí não saio, aquí é minha casa, minha vida, e
eles não me desonrariam nessa altura de minha vida. Eles vão ter
que me aturar, e eu sou bem enjoado...mas eu acredito no caráter
deles, acredito que a casa seja minha.”
“...O
movimento social que mudou
a cara do mundo(...)
Hoje em
dia, infelizmente, a gente viu traídos todos os seus princípios.”
Rock
and Roll 3: o sonho
Serguei:
“Minha casa é um museu histórico, que conta a história do Rock e
a época em que o Rock começou e explodiu. Conta a história da
geração hippie, da qual eu sou um dos últimos, principalmente pela
filosofia (e mostra dois livros – On the road, de Jack Kerouac, e
Howl', de Allen Ginsberg). Eu sempre viví nisso, eu viví todas as
revoluções da década de 60, entendeu? Todas aquelas maravilhas, o
movimento social que mudou a cara do mundo. Beatles, Rolling Stones,
os concertos, proclamavam a liberdade, a paz e o amor pelos
parques...isso foi a coisa mais importante que aconteceu no mundo.
Hoje em dia, infelizmente, a gente viu traídos todos os princípios
de vida, o sonho – de uma certa forma – acabou, embora ainda
existam remanescentes como eu. Mas posso dizer que esse sonho, ele
foi vitorioso, e fechou com o concerto de Woodstock, reunindo mais de
um milhão de pessoas. Alí, toda a razão de existir, o sentimento
de liberdade, tudo isso provou estar implantado, mas o movimento em
sí, a partir dalí, foi declinando. Aí começou a mediocridade, a
falta de autenticidade (nas propostas), começou tudo a se misturar.
É como a Bíblia: você lê e entende de um jeito, eu leio e entendo
de outro, cada um dá a sua versão. A versão que eles deram foi a
pior possível: ficaram contra tudo o que foi feito e quiseram
mostrar a versão deles, feia, pequena, medíocre, inexpressiva,
estúpida. E nosso Cazuza resumiu muito bem: 'ideologia, eu quero uma
pra viver'...Cazuza querido, do coração! (e faz um gesto de quem
manda beijos ao céu) Falta as pessoas terem uma liberdade mais
inteligente, mais prática, e não ficarem como quase a totalidade
dos brasileiros, pendurados num chavão ridículo: 'os portugueses
nos exploraram, nós somos tão bonzinhos...' Fomos! Fomos! Passado
do verbo! Não somos mais! Hoje as pessoas vivem sem horizontes, elas
vivem o momento, mas um momento muito escrôto. Não há um propósito
de vida, aquela coisa de 'vamos fazer', entendeu? Acho que já
encontraram pronto. E, se não estiver pronto, compram no shopping
fazendo sempre a pior escolha.”
Pela
milionésima vez: como Sergei comeu Janis Joplin
Serguei:
“Que saco! Quem me apresentou tá ali, ó, no retrato na parede:
Oliveira, percussionista da banda Chicago. Ele era amigo da Janis e
me apresentou nos EUA. Tinha uma festa de escola e eu levei minha
banda, Centauro. Ela vinha descendo uma ladeira vestida de cigana e
ele me apresentou: 'Sergei, Ms. Janis Joplin'. Meu queixo caiu e eu
fiquei rindo, brinquei perguntando se não era Jackie Kennedy. Ela
riu e depois ficou séria. E me deu um beijo. Aí depois ela veio ao
Brasil, mas me perguntar datas, lugares...é uma certa maldade
(risos). Aqui no Brasil, a gente estava na Avenida Copacabana e ela
me pediu uma caneta. (Interrupção provocada pelo cachorro Nick, que
fuçou a lata de lixo) Aí eu dei e ela escreveu uma dedicatória na
calça, na altura da coxa. Guardei aquela calça até hoje, como
relíquia, mas muitos anos depois minha mãe achou ela nas minhas
coisas, viu que tava suja e botou pra lavar! Perdí a dedicatória!
Mas a calça tá alí, na parede.”
“Viver
é difícil, e a
vida é curta.
Então,
bota pra f*der!”
Shows:
Serguei:
“Eu estou voltando de Belém do Pará, onde sou padrinho dessa
campanha (mostra a camiseta) 'APAVERDE – Salvar o planeta é uma
tarefa de todos nós', e todos os anos tem isso e eu vou lá, fazer
um show. Estava lá a Mulher-Moranguinho! Tão bonitinha! Ela tem um
rosto lindo! Tava aquela outra, que foi mulher daquele cantor, o
Latino...a Kelly Key, e ela tem um programa na TV Record, e ela me
entrevistou no camarim dela. Acho que é um programa pra crianças,
ela falou 'crianças, é o Serguei!'
(Nova
interrupção, desta vez pelo cachorro Nick, que entrou de focinho na
barriga do entrevistado, pedindo comida)
Eles tem
uma vida de rei aqui...todos vacinados, com muita água, comida,
carinho...Nick, sai daí! Ele foi pra cozinha...vai comer alguma
coisa que tá lá...ai meu Deus...essa é a entrevista mais
underground que eu já fiz...!
Agora
você vê que maravilha...as pessoas tem que sair dessa mesmice.
Jovem cabeça, como você é, tem que prestigiar esse tipo de
atitude...(bate palmas) acorda! Acorda! Viver é difícil, e a vida é
curta. Então, bota pra f*der! Mostra sua opinião, senão...(risos)
tem que comprar esse jornal, pra de repente ouvir essas coisas!
Mostra sua opinião, diz o porque...que também não é todo mundo
que merece uma opinião, uma idéia, uma explicação. E pronto! Mete
a cara e vai em frente! Se alguem vier criticar alguma coisa, que
critique por si mesmo. Não pela nação, que a nação não faz nada
pela gente.”
Living
in the USA:
Serguei:
“Minha avó achava que minha educação não tinha de ser feita
aqui no Brasil. Ela dizia: 'vocês são burros, incompetentes e
preguiçosos. Vocês tem nas mãos um continente e nunca fizeram
acontecer coisa nenhuma'. Minha avó era americana, e fazia a
comparação: 'olha nós aqui e olha vocês lá'. Os garotos me
perguntavam, no colégio: 'vem cá, naquele teu buraco lá na América
do Sul, vocês pensam com os pés, não é?' Aí todo mundo aplaudia
o cara. O Brasil é bonito, tem grandes potencialidades, mas nunca
aconteceu mesmo. Quer dizer, minha avó tava certa.”
Política:
Serguei:
“É igual a esse oba-oba em torno do Lula: acho muito carnaval, mas
preciso te confessar uma coisa, que eu tenho medo de que ele saia.
Porque eu não sei qual equipe econômica vai vir após ele, certa ou
errada, essa equipe conseguiu colocar o Brasil muito bem colocadinho,
a situação de hoje não é a de antes. Aquele batom vermelho,
escandaloso, só pode ser usado por uma mulher linda, cheia de curvas
e fazendo vários charmes com o corpo. Não pode ser uma matrona
horrorosa. E o batom vermelho aí seria usado pelo Brasil, que é uma
nação feia, politicamente. Então, pintar a boca do Brasil com esse
batom vai ser um horror. Teria que ser um Brasil mais forte, porque
hoje o país não pode ter o que quiser, como os países
desenvolvidos. A democracia é para os Estados Unidos da América do
Norte!, e não para quem quer. Nós não merecemos democracia,
estamos completamente despreparados! Nós sequer sabemos o que
queremos. E não existe nação sem povo. Temos uma bandeira em que
tá escrito 'Ordem e Progresso', onde 'ordem' vem antes da palavra
'progresso'. Por que? Porque já se sabia naquela época, há um
milhão de anos atrás, que não existe progresso sem ordem, cacete!
Por que não temos progresso? Porque não existe ordem! É um
corredor de loucos, onde ninguém se entende. O Brasil é um lugar
onde todos roubam todo mundo o tempo todo! E pelo poder da televisão
e do rádio, mostrando, falando, denunciando, o povo vai ficando
desapontado e chega a um ponto que já vai ficando safado também!
Dizem: 'Ah, é? Então vou roubar também!'. Então, a democracia é
para os povos mais civilizados.
“Nós
não merecemos democracia,
estamos completamente despreparados!
Nós
sequer sabemos o que queremos.”
Serguei:
“O Brasil é um país lindo, mas como nação, não existe. Só São
Paulo que escapa, a única praga é ser mandado por Brasília. Se a
revolução de 1932 tivesse dado certo, eu teria apresentado meu
passaporte pra pedir cidadania paulista. Aqui em Saquarema pediram
uma vez pra eu ser candidato a vereador, eu disse que ia ser, eu vou.
Eu ia de sunga, meião e tênis. Esculhambava todo mundo e voltava
pra casa. Ganhei 280 votos e eu disse: agora eu saio e deixo o
suplente, que eu não quero assumir porra nenhuma, então não tem
nada a ver comigo essa de política. As pessoas são muito
engraçadas...a política partidária, é tudo muito burro! Aquí em
Saquarema, por exemplo (risos)...eu tenho que rir...existe um
deputado, se chama Paulo Melo, que é o que faz tudo pela cidade, e é
amigo do Lula, é do PMDB, é colega, amigo do Sérgio Cabral, pega
as coisas, as coisas vem pra cá, o dinheiro, as obras a serem
executadas, então é o seguinte: o prefeito, governador, presidente
de qualquer país, nada mais são que os homens do escritório.
Homens ou mulheres, no caso daqui é a Franciane Melo. Então tudo
bem, é bonitinha, simpática, tem um sorriso, é inteligente, e ela
tá entrando na vida política...ela tem uma certa competência, mas
ela é a 'mulher do escritório'. Como Bush (EUA) era o cara do
escritório, o presidente, prefeito não sei da onde são pessoas do
escritório. Tem que despachar, pedir uma influência política, se
vale a pena despachar aquilo favorável ou não, entendeu? Então
eles são os caras do escritório, não fazem política, isso quem
faz é o político, aqui no caso o Paulo Melo, que é uma águia, uma
potência política. Ele faz todas aquelas coordenações, aquelas
coisas, e consegue todo esse progresso que tem conseguido para a
cidade. Aí o povo vai e vota num outro rapaz, que tinha problemas
sérios com o Ministério Público. Ele poderia ser a pessoa que
fosse, mas não poderia ser candidato a coisa nenhuma, pois se o MP
tava processando o cara, como é que esse mesmo Ministério, ele
entende – agora pegaram essa mania: eles 'entendem'. Ah, porque o
Juiz 'entendeu'...mas eu também entendí, só que ao contrário do
que ele está dizendo, porra! Então o MP 'entendeu' que ele pode se
candidatar, mas se ele ganhar não assume! Bicho, isso parece aquelas
comédias de circo! Aí o cara se candidatou e o povo daquí votou
nele e não na Franciane, que é a esposa do cara que faz a política
pra trazer o dinheiro, executar as obras em Saquarema! O povo não
votou porque tinha fixação nesse outro homem, sabe aquela coisa bem
'Sulamérica'? 'Este señor, Getúlio Vargas, Perón'...entendeu? O
povo adora esse tipo de coisa! O povo vive o 'homem', o povo tem
ícones políticos. Isso foi uma prova de estupidez extrema, burrice.
Tem que atrair quem tem o dinheiro, quem tem o poder, quem tem
amizades, que aí as coisas chegam! Prefeitos, essas coisas, eles são
representativos, embora participem. Eles são apenas os 'caras do
escritório'. E o resto? O resultado foi que o cara ganhou mas não
entrou, e aí veio a prefeita.”
“O
povo vive o 'homem',
o povo tem ícones
políticos.
Isso é
uma prova de estupidez.”
Imprensa:
Serguei:
“Graças à Deus ainda leio jornais. Não tem nada melhor. Eu não
fumo, mas quem fuma acorda, vai na banca de jornal, compra um e volta
pra casa. Fica lendo, fumando e tomando café quentinho – ou suco
de laranja, ou champagne, o que preferir. Mas o babaca, o imbecil,
senta o c* numa cadeira, liga a máquina de escrever com tela, bate
nas teclas e fica olhando...quer dizer, é o mau uso do computador.
Se usar pra decisões ou pra adquirir conhecimentos, maravilha! Mas
ficar assim igual a um babaca, os pais...aliás, os pais são
culpados de tudo. Caráter, comportamento, isso tudo vem de casa e
não da escola. Escola se aprende que 2 e 2 são 4, mas assim mesmo
tem uns professores que dizem que não (risos), que é outro
resultado...Existe muita sacanagem na imprensa, mas ela é livre!
Pelo menos isso! De maneira que você tem acesso às palavras...que
são as coisas mais importantes da vida, não é não?”
Paz?
Amor?
Serguei:
“Outro dia o governador do Rio, Sérgio Cabral, estava no programa
do Datena e disse que, no Brasil, os estados deveriam ser autônomos.
Na mesma hora entrou a vinheta e veio uma mulher falar de sexo! E
Sérgio Cabral sumiu. Se isso não é censura, não sei mais o que é.
Aí depois o bandido pega um foguete e bota um helicóptero abaixo.
Bicho, onde estamos? Eu não sei! Depois dessa, não entendo mais
nada! Cadê a autoridade? A verdade é que quem manda no Brasil é o
crime, porque é organizado. Por isso o nome: 'crime organizado'. Os
caras mandam! Bicho! Os caras mandam!
“Imagine
se, nos EUA, derrubam
um helicóptero
e o
Governo não se pronuncia?
Vergonha
mundial!”
Tanto
mandam que, se não fosse assim, não iam derrubar um helicóptero da
PM, ou mesmo civil. Aí saíram pra procurar no morro o desgraçado
que fez isso. Só que o desgraçado já sumiu, não vão encontrar e
acabou! E se encontrarem, logo depois o morro volta a ficar
igualzinho a antes. Imagine se em Washington, Miami, ou o que for, lá
nos EUA, um bandido derruba um helicóptero seja de quem for, e o
governo americano não se pronuncia e nada acontece: meu Deus do céu!
Vergonha mundial! E aquí ninguém fala nada e está tudo bem, fica
por isso mesmo!
Cansei,
sabe?”
Entrevista concedida ao editor, Walter Biancardine, em outubro de 2009 no Templo do Rock - Saquarema, RJ