domingo, 3 de maio de 2015

A arte e a arte da conceituação artística – ou “á que horas esse povo trabalha se ficam o tempo todo de papo?”

CRÔNICAS DE UM DOMINGO VADIO



Antes de mais nada faz-se necessário esclarecer ao ilustre leitor que sou um bronco.

Reconheço-me um ôgro cromado, um caminhoneiro envolto em papel celofane: desembrulhe a embalagem social e lá você encontrará o bom e velho neanderthal, que palita dentes e coça o saco em ocasiões impróprias. Só que aprendi a escrever direitinho e engano bem.

Isso posto, resolvi dedicar este espaço ocioso a discorrer – como leigo ignorante que sou – sobre algo que considero uma das maiores características do ser “artístico”, quase uma condição sine qua non: a incrível capacidade de falar interminavelmente sobre conceitos – seja quais conceitos forem: da arte, da filosofia, da política, futebol, trânsito, bunda da Valeska Popozuda, o diabo a quatro. Se você quer fazer a alegria de um artista, não precisa presenteá-lo com pincéis, telas ou martelos: dê-lhe um assunto para polemizar.

É incrível constatar que, para pintar uma vaquinha em frente á uma velha negra na roça, o ousado experimentalista conceitual viajou na busca de uma linguagem pictórica expressionista que remetesse ao figurativo naif de uma ótica de contestação da brutalidade opressora do capital em contraste com as origens campesinas, onde o artista colherá toda a simbiose da formação da estética da postura vanguardista enquanto “ser”, e que á nível de proposta, fê-lo pintar a vaquinha de branco com umas manchinhas bege. 

Quando um ignorante como eu poderia suspeitar que, por trás do quadro de uma roceira ordenhando, estivesse tanta ciência do pensamento e da experimentação intelectual!

De agora em diante, sabedor de tamanho empenho para se obter resultados tão, digamos, minimalistas, passarei a respeitar mais as rodas de artistas e intelectuais nos bares, pois daquela discussão acirrada sobre a possibilidade de uma faca cravada em uma velha máquina de escrever ser considerada como “arte” poderá sair uma obra prima do porte de um Davi, de Michelângelo.

Me dá arrepios só de imaginar em quantos bares ele teve de encher a cara e discutir, para poder esculpir aquela maravilha!