segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

ALAIR CORRÊA VAI PARA CASA - SERÁ O FIM DE UMA ERA? Editorial


EDITORIAL CABO FRIO – Um fim melancólico

Ao fim de quatro décadas na vida pública, a despedida de Alair Corrêa do cargo de prefeito e, talvez, de sua carreira política tem os inconfundíveis contornos da melancolia e decepção.

Não há quem possa, usando de sinceridade, recusar-se a reconhecer que a cidade de Cabo Frio foi colocada no mapa por Alair – uma decisão arriscada, quase monocrática e favorecida por cofres cheios de royalties – e que resultou finalmente na “vida própria” do município.

Por outro lado, os problemas típicos de urbes maiores também vieram – migração de desvalidos para o “ouro fácil” – favorecido por shows gratuitos em uma política suicida de turismo baixa renda – inchaço populacional, surgimento de favelas, criminalidade e deficit na infra estrutura. Os dias de paraíso da cidade se acabaram e restou para nós cuidarmos para que todo um município não se transforme numa perigosa e decadente periferia.

Três coisas golpearam as esperanças de Alair, de forma fatal: a primeira, já há tempos, foi a morte de seu filho Márcio Corrêa – um dos políticos mais queridos da cidade – em um acidente automobilístico.

Ocorrida num momento em que o prestígio do prefeito era imbatível, o trágico acontecimento acabou com a secreta pretensão de Alair em candidatar-se ao governo do Estado do Rio – aos moldes de Anthony Garotinho – e o atingiu emocionalmente de forma, talvez, irrecuperável – nenhum pai escapa ileso da morte de um filho.

Se a tragédia em nada influiu na sua capacidade administrativa, por outro lado o condenou a pendular entre ser deputado ou o eterno prefeito – nascendo aí a briga com Marcos Mendes, que acabou ocupando a prefeitura que deveria ser de Márcio enquanto Alair governaria o Estado.

O segundo golpe veio com a queda brutal dos royalties: depois de anos em desentendimento com seu sucessor Marquinho Mendes, finalmente voltou ao ambicionado cargo e disposto a, mais uma vez, transformar a cidade no rumo prometido em campanha, que seria tornar Cabo Frio a meca do turismo nacional. Pois a falta de dinheiro não apenas minou suas esperanças como levou a cidade ao ponto da catástrofe financeira – aproveitada pelos inúmeros adversários que cultivou em anos de mando pessoal, como um estigma pregado em seu rosto.

O terceiro e último golpe foi o que normalmente ocorre nos naufrágios de grandes navios: a debandada da tripulação. Alair foi deixado sozinho por muitos, traído por alguns e evitado por todos. Não se trata de disfarçar erros de conduta do prefeito ou minimizar os piores traços administrativos de sua gestão como impulsividade, personalismo e até arrogância dos mais próximos, mas sim de expor ao público que uma desgraça cívica jamais é causada por uma só razão ou uma só pessoa – no caso, Alair.

Resumindo e exemplificando a era Alair Corrêa em Cabo Frio poderíamos dizer que, sem ele, não teríamos uma cidade inteiramente pavimentada, com um impressionante asfalto liso e plano, digno de outros países. Por outro lado, graças aos seus incontidos rompantes, hoje este asfalto se assemelha ao solo de crateras da lua.

Cabe a cada cabofriense fazer um balanço, pesar qualidades e defeitos como visão de futuro e personalismo, empreendedorismo e amadorismo financeiro, carisma pessoal e implicância boquirrota com adversários, perseverança e implicância. E o saldo deste balanço de cada cidadão poderá, talvez, influir nas decisões futuras do homem que colocou Cabo Frio no mapa mas que hoje apenas planeja sumir.

E este comportamento deve nortear as escolhas políticas do eleitor, já que dentre os atuantes no cenário de hoje temos um Marquinho que dormiu oito anos como prefeito, um Jânio que nenhuma experiência possui e sofre o vexame de sua subserviência aos governos corruptos de Sérgio Cabral e Pezão, Paulo César com sua incrível capacidade de desprezar e perder oportunidades bem como a zebra do páreo, Dr. Adriano – igualmente sem experiência e provavelmente sem a coragem necessária para sentar naquela cadeira sem se tornar escravo de empreiteiras e outros.

O Opinião sempre apoiou Alair Corrêa e não seria agora que faltaria com o respeito devido ao homem que fez esta cidade. Entretanto e tendo como base suas atuais atitudes, é justo supor que o velho político descobriu que seu tempo passou.

Agora está na hora de novos personagens, novas escolhas e certamente Cabo Frio merece coisa melhor do que os atuais habitantes do cenário político.

Walter Biancardine

Editorial opinativo. Todos os citados tem amplo direito de resposta.