EDITORIAL CABO FRIO
– Um fim melancólico
Ao fim de quatro
décadas na vida pública, a despedida de Alair Corrêa do cargo de
prefeito e, talvez, de sua carreira política tem os inconfundíveis
contornos da melancolia e decepção.
Não há quem possa,
usando de sinceridade, recusar-se a reconhecer que a cidade de Cabo
Frio foi colocada no mapa por Alair – uma decisão arriscada, quase
monocrática e favorecida por cofres cheios de royalties – e que
resultou finalmente na “vida própria” do município.
Por outro lado, os
problemas típicos de urbes maiores também vieram – migração de
desvalidos para o “ouro fácil” – favorecido por shows
gratuitos em uma política suicida de turismo baixa renda – inchaço
populacional, surgimento de favelas, criminalidade e deficit na infra
estrutura. Os dias de paraíso da cidade se acabaram e restou para
nós cuidarmos para que todo um município não se transforme numa
perigosa e decadente periferia.
Três coisas
golpearam as esperanças de Alair, de forma fatal: a primeira, já há
tempos, foi a morte de seu filho Márcio Corrêa – um dos políticos
mais queridos da cidade – em um acidente automobilístico.
Ocorrida num momento
em que o prestígio do prefeito era imbatível, o trágico
acontecimento acabou com a secreta pretensão de Alair em
candidatar-se ao governo do Estado do Rio – aos moldes de Anthony
Garotinho – e o atingiu emocionalmente de forma, talvez,
irrecuperável – nenhum pai escapa ileso da morte de um filho.
Se a tragédia em
nada influiu na sua capacidade administrativa, por outro lado o
condenou a pendular entre ser deputado ou o eterno prefeito –
nascendo aí a briga com Marcos Mendes, que acabou ocupando a
prefeitura que deveria ser de Márcio enquanto Alair governaria o
Estado.
O segundo golpe veio
com a queda brutal dos royalties: depois de anos em desentendimento
com seu sucessor Marquinho Mendes, finalmente voltou ao ambicionado
cargo e disposto a, mais uma vez, transformar a cidade no rumo
prometido em campanha, que seria tornar Cabo Frio a meca do turismo
nacional. Pois a falta de dinheiro não apenas minou suas esperanças
como levou a cidade ao ponto da catástrofe financeira –
aproveitada pelos inúmeros adversários que cultivou em anos de
mando pessoal, como um estigma pregado em seu rosto.
O terceiro e último
golpe foi o que normalmente ocorre nos naufrágios de grandes navios:
a debandada da tripulação. Alair foi deixado sozinho por muitos,
traído por alguns e evitado por todos. Não se trata de disfarçar
erros de conduta do prefeito ou minimizar os piores traços
administrativos de sua gestão como impulsividade, personalismo e até
arrogância dos mais próximos, mas sim de expor ao público que uma
desgraça cívica jamais é causada por uma só razão ou uma só
pessoa – no caso, Alair.
Resumindo e
exemplificando a era Alair Corrêa em Cabo Frio poderíamos dizer
que, sem ele, não teríamos uma cidade inteiramente pavimentada, com
um impressionante asfalto liso e plano, digno de outros países. Por
outro lado, graças aos seus incontidos rompantes, hoje este asfalto
se assemelha ao solo de crateras da lua.
Cabe a cada
cabofriense fazer um balanço, pesar qualidades e defeitos como visão
de futuro e personalismo, empreendedorismo e amadorismo financeiro,
carisma pessoal e implicância boquirrota com adversários,
perseverança e implicância. E o saldo deste balanço de cada
cidadão poderá, talvez, influir nas decisões futuras do homem que
colocou Cabo Frio no mapa mas que hoje apenas planeja sumir.
E este comportamento
deve nortear as escolhas políticas do eleitor, já que dentre os
atuantes no cenário de hoje temos um Marquinho que dormiu oito anos
como prefeito, um Jânio que nenhuma experiência possui e sofre o
vexame de sua subserviência aos governos corruptos de Sérgio Cabral
e Pezão, Paulo César com sua incrível capacidade de desprezar e
perder oportunidades bem como a zebra do páreo, Dr. Adriano –
igualmente sem experiência e provavelmente sem a coragem necessária
para sentar naquela cadeira sem se tornar escravo de empreiteiras e
outros.
O Opinião sempre
apoiou Alair Corrêa e não seria agora que faltaria com o respeito
devido ao homem que fez esta cidade. Entretanto e tendo como base
suas atuais atitudes, é justo supor que o velho político descobriu
que seu tempo passou.
Agora está na hora
de novos personagens, novas escolhas e certamente Cabo Frio merece
coisa melhor do que os atuais habitantes do cenário político.
Walter Biancardine
Editorial opinativo. Todos os citados tem amplo direito de resposta.
Editorial opinativo. Todos os citados tem amplo direito de resposta.