quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

OS FÃS DE HOJE SÃO OS LINCHADORES DE AMANHÃ – A entrevista de Alair Corrêa na TV


Bastante apropriados os versos do poeta e compositor Cazuza, para definir o momento – inglório – que o ainda prefeito Alair Corrêa atravessa, e sob o qual deverá entregar o cargo para seu sucessor, Marquinho Mendes, que o antecedeu até 2012 e igualmente saiu sob vaias.

Três fatos foram determinantes para esta impressionante derrocada de popularidade daquele que já foi considerado um dos melhores prefeitos do país: a absurda aprovação do Plano de Cargos e Salários (PCCR) pela Câmara de Vereadores de Cabo Frio – uma atitude irresponsável, que onerou a folha de pagamentos em milhões de reais da noite para o dia, sem nenhum prazo para adequação do orçamento – a queda do preço do petróleo e a manipulação, pelos governos do PT, da arrecadação dos royalties igualmente de forma repentina e, finalmente, a falência da República após o saque petista aos cofres públicos – que empurrou estados importantes como Rio de Janeiro (embora igualmente saqueado por Sérgio Cabral), Rio Grande do Sul e Minas Gerais para a decretação do estado de calamidade financeira e lançou o país inteiro na mais brutal recessão e onda de desemprego já vista nos últimos 100 anos.

Em que pese as boas intenções de Alair e até mesmo a vaidade de fazer um governo glorioso, a verdade é que seu estilo personalista foi mudado á duras penas pelas críticas e assim permitiu a acomodação de assessores, auxiliares, secretários e outros cargos importantes de primeiro escalão detentores pela primeira vez de um real poder de mando. Só que muito mais interessados estavam em seus benefícios pessoais do que no correto funcionamento da cidade – mas este foi o preço do acordo que Alair fez para reeleger-se, esquecendo-se que um auxiliar pode ser incompetente mas quem assina a burrice alheia é o prefeito.

Existe um outro ponto também, e que foi demonstrado claramente durante a marcante entrevista veiculada no programa Amaury Valério, no canal 10: Alair já sente o peso dos anos. Foi evidente a atual falta de trato em sua fala, impaciente, resumida e até mesmo irritada – é claro que sua situação poderia explicar este fraco desempenho televisivo, mas o fato é que este comportamento irritadiço permeou seus quatro anos de governo, não só devido a horda de parasitas, pedidos e problemas inerentes ao cargo mas, também, por uma real irritação com a torpe rotina da vida pública – que já cumpre há quarenta anos.

A verdade é que Alair cometeu erros, uns menores, outros graves. Estes erros mais graves deram a munição que sindicatos aproveitadores e políticos de oposição precisavam para detonar sua administração, e foram bem sucedidos nisso. Do mesmo modo subestimou o prefeito o poder das redes sociais e internet – não apenas Alair, mas todo o establishment governamental de municípios, estados e Federação igualmente revelaram-se despreparados para isso – e através do wi fi escoou-se sua popularidade, no calor das queixas deixadas sem resposta por sua assessoria de Comunicação e sem ações concretas pelos demais departamentos.

Por outro lado Alair foi certeiro e revelou grande conhecimento dos hábitos e costumes das pessoas ao relembrar que os agressores e queixosos de hoje são os mesmos que o idolatravam quatro anos atrás. Fez bem o prefeito ao lembrar que ele – e mais ninguém – colocou a cidade no mapa turístico nacional; do mesmo modo enfiou o dedo na ferida oposicionista ao relembrar os constantes abonos salariais concedidos e que provocaram verdadeira histeria de adoração dos cabofrienses, além da inveja daqueles que não participavam do festivo bolo municipal. Enumerou suas obras e realizações, mostrando um inegável e impressionante saldo, mas em tudo e por tudo mal conseguiu esconder sua derrota – nem tanto para a oposição, mas principalmente para uma gorda fatia de aliados acomodados em seu governo. E todos viram seu cansaço e desânimo.

É certo que a gestão de Marquinho Mendes – salvo milagre econômico alheio às suas forças – igualmente sofrerá poderosa erosão, e em breve será xingado e odiado. Mas conta o novo prefeito com uma força que Alair não soube – ou não quis – construir: uma boa equipe de auxiliares. E é a favor desta equipe que o cabofriense deve dirigir suas preces: não por idealismo ou partidarismo pois o homem político pouco difere um do outro, mas sim pelo mais básico instinto de sobrevivência, em meio ao caos econômico e financeiro que o país inteiro se tornou.

Digna de nota é a iniciativa do radialista Amaury Valério ao longo destas entrevistas – Marquinho e Alair: imparcial e com algumas perguntas até incômodas, o que não é hábito de nossa mídia sempre gentilíssima. Soube conduzir com isenção, concedeu o tempo necessário para as (longas) respostas de cada um e depois teve ainda a louvável coragem de mostrar os comentários de sua audiência sobre os entrevistados. Desnecessário dizer que para o novo mandatário, apenas elogios e juras de amor. Já para o rei posto, rei morto: xingamentos, desaforos e pedidos de direito de resposta.

Mas assim é o ser humano, o ser político, o eleitor: fútil, leviano, inconstante e oportunista.

O programa Amaury Valério nos mostrou o porquê de nossa democracia não funcionar: povo e políticos, em sua grande maioria, se equivalem.

E que Deus nos reserve um melhor 2017.