Classe B: a classe
esquecida
Tempos atrás, em um
passado nem tão distante posto que imediatamente anterior ao advento
do Lullismo, a pirâmide social dividia-se apenas em classes A,B e C.
Indivíduos mais
realistas e atentos ás misérias tupiniquins encontraram, nos lixões
e marquises da vida, a classe D – que hoje, curiosamente,
compreende os antigos componentes da classe C.
Como podemos observar
na ilustração acima, a chegada do ditador petista ao poder produziu
uma deformidade sociológica eis que, em seu afã de provar
estatisticamente a erradicação da miséria nacional, num golpe de
“gênio” simplesmente fundiu as classes A e B numa só – as
preconceituosamente chamadas “elites” - e promoveu a classe C ao
status de “classe média”.
Fácil é observar que
o que hoje se denomina “classe média” inicia seus ganhos com
pouco mais de um salário mínimo, sendo pouco crível a qualquer
um que não seja um intelectual petista de gabinete, acreditar que se
vive dignamente com mil reais por mês.
É inegável,
entretanto, que seja por conta dos inúmeros programas
assistencialistas do governo, seja em virtude do real aumento do
poder de compra do salário mínimo ou mesmo por uma perceptível
melhora na capacidade de consumo popular, hoje o país atravessa uma
explosão de consumo jamais vista antes – é a explosão da classe
C, muito bem retratada na novela “Avenida Brasil”, da Rede Globo,
que desenha à perfeição a dicotomia entre o poder de gastar e a
incapacidade de discernir qualidade, senso estético ou mesmo
conveniência naquilo que se compra, por parte dos integrantes desta
fatia social.
A indústria, o
comércio e os prestadores de serviço prontamente identificaram o
novo filão e uma massiva e exclusiva dedicação à classe emergente
tomou conta dos empreendedores no Brasil.
Temos como exemplos
mais evidentes a TV a cabo – antes um produto considerado
“elitista”, com canais segmentados, sem dublagem e apresentando
programas com abordagem objetiva e mais aprofundada – que rendeu-se
aos encantos dos novos emergentes e voltou-se inteira, em uma paixão
monogâmica, para este nicho. Como resultado temos hoje uma TV paga
pela qual, cada vez menos, vale a pena pagar.
Nas rádios a
devastação foi completa: poucas e estoicas emissoras insistem em
sobreviver sem o ouro fácil provocado pelo sertanejo universitário,
axé, pagode, gospel ou funk.
Em termos de laser,
vida noturna, tornou-se um desafio encontrar um lugar no qual não
esteja instalada – em posição de honra – uma poderosa TV de
plasma à exibir o Brasileirão ou mesmo o Domingão do Faustão.
De modo pior para as
mulheres, comprar roupas é hoje a difícil escolha entre vestir-se
como uma beata ou aderir ao look “Tchutchuca”, pois mesmo as mais
renomadas etiquetas precisam faturar e, na mentalidade capitalista
dominante, o dinheiro está em mãos cegas e – perdoem-me –
bárbaras.
Cabe entretanto
ponderar que a classe B – aquela antiga classe média que outrora
conhecemos – não morreu. Ela continua com seus gostos, hábitos,
pequenos requintes e educação melhor possível, dentro de seus
orçamentos.
É uma classe que hoje
não consegue se ver na TV, não se ouve nas músicas, nas lojas, nos
bares, nos shows. Produtos a ela dirigidos como o seriado “Os
Normais” da TV Globo, o rock nacional – Blitz como expoente mais
característico – marcas de roupa extintas por inanição como
Inega, Toulon, ou quase, como a Levi's – shows memoráveis em
lotações próprias, como os antigos eventos do falecido Canecão;
tudo isso deu lugar ao predomínio da quantidade em detrimento da
qualidade. De fato, para a “intelectualidade”, a classe B morreu
no início dos anos 90.
Fato curioso e digno de
estudo é a nenhuma crença – por parte do empresariado – no
potencial de compra da classe B, que foi preconceituosamente
confundida pelo governo (embora em realidades quilometricamente
diferentes) com uma suposta classe A, que só consumiria no exterior
ou “do” exterior.
Outro fato digno de
nota é que os “formadores de opinião” realmente conseguiram
acuar a classe B, fazê-la sentir vergonha de si mesma e alardear que
os integrantes deste extrato social são impermeáveis ao novo –
seja na música, na TV ou mesmo em hábitos de consumo.
É óbvio o volume
avassalador de consumo da emergente e ansiosa classe C, mas a
envergonhada classe B ainda empresta prestígio ao produto consumido
– por mais que se queira negar ou menosprezar – tal qual a classe
A o fez, em passado mais distante. Se não, por que motivos jogadores
de futebol ou pagodeiros tomariam, como primeira providência,
simbolizar sua ascensão social com os ícones – carros, joias,
celulares, baladas – desta mesma e tão criticada classe?
A classe B está viva,
está aí, à espera de um visionário que a redescubra e acredite no
óbvio: seu poder de consumo. Evidentemente, por se tratar de um
público mais exigente, o custo de produção daquilo a eles
destinado será bem maior. Mas os lucros, igual e proporcionalmente,
também o serão.
E para você que é
classe B, não se envergonhe disso: manifeste-se, exija ver-se
representado na TV, na política, nas rádios, nas lojas, na noite!
A classe B unida jamais
será vencida!
Walter Biancardine