segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A CLASSE B NÃO MORREU



Classe B: a classe esquecida

Tempos atrás, em um passado nem tão distante posto que imediatamente anterior ao advento do Lullismo, a pirâmide social dividia-se apenas em classes A,B e C.
Indivíduos mais realistas e atentos ás misérias tupiniquins encontraram, nos lixões e marquises da vida, a classe D – que hoje, curiosamente, compreende os antigos componentes da classe C.
Como podemos observar na ilustração acima, a chegada do ditador petista ao poder produziu uma deformidade sociológica eis que, em seu afã de provar estatisticamente a erradicação da miséria nacional, num golpe de “gênio” simplesmente fundiu as classes A e B numa só – as preconceituosamente chamadas “elites” - e promoveu a classe C ao status de “classe média”.
Fácil é observar que o que hoje se denomina “classe média” inicia seus ganhos com pouco mais de um salário mínimo, sendo pouco crível a qualquer um que não seja um intelectual petista de gabinete, acreditar que se vive dignamente com mil reais por mês.
É inegável, entretanto, que seja por conta dos inúmeros programas assistencialistas do governo, seja em virtude do real aumento do poder de compra do salário mínimo ou mesmo por uma perceptível melhora na capacidade de consumo popular, hoje o país atravessa uma explosão de consumo jamais vista antes – é a explosão da classe C, muito bem retratada na novela “Avenida Brasil”, da Rede Globo, que desenha à perfeição a dicotomia entre o poder de gastar e a incapacidade de discernir qualidade, senso estético ou mesmo conveniência naquilo que se compra, por parte dos integrantes desta fatia social.
A indústria, o comércio e os prestadores de serviço prontamente identificaram o novo filão e uma massiva e exclusiva dedicação à classe emergente tomou conta dos empreendedores no Brasil.
Temos como exemplos mais evidentes a TV a cabo – antes um produto considerado “elitista”, com canais segmentados, sem dublagem e apresentando programas com abordagem objetiva e mais aprofundada – que rendeu-se aos encantos dos novos emergentes e voltou-se inteira, em uma paixão monogâmica, para este nicho. Como resultado temos hoje uma TV paga pela qual, cada vez menos, vale a pena pagar.
Nas rádios a devastação foi completa: poucas e estoicas emissoras insistem em sobreviver sem o ouro fácil provocado pelo sertanejo universitário, axé, pagode, gospel ou funk.
Em termos de laser, vida noturna, tornou-se um desafio encontrar um lugar no qual não esteja instalada – em posição de honra – uma poderosa TV de plasma à exibir o Brasileirão ou mesmo o Domingão do Faustão.
De modo pior para as mulheres, comprar roupas é hoje a difícil escolha entre vestir-se como uma beata ou aderir ao look “Tchutchuca”, pois mesmo as mais renomadas etiquetas precisam faturar e, na mentalidade capitalista dominante, o dinheiro está em mãos cegas e – perdoem-me – bárbaras.

Cabe entretanto ponderar que a classe B – aquela antiga classe média que outrora conhecemos – não morreu. Ela continua com seus gostos, hábitos, pequenos requintes e educação melhor possível, dentro de seus orçamentos.
É uma classe que hoje não consegue se ver na TV, não se ouve nas músicas, nas lojas, nos bares, nos shows. Produtos a ela dirigidos como o seriado “Os Normais” da TV Globo, o rock nacional – Blitz como expoente mais característico – marcas de roupa extintas por inanição como Inega, Toulon, ou quase, como a Levi's – shows memoráveis em lotações próprias, como os antigos eventos do falecido Canecão; tudo isso deu lugar ao predomínio da quantidade em detrimento da qualidade. De fato, para a “intelectualidade”, a classe B morreu no início dos anos 90.
Fato curioso e digno de estudo é a nenhuma crença – por parte do empresariado – no potencial de compra da classe B, que foi preconceituosamente confundida pelo governo (embora em realidades quilometricamente diferentes) com uma suposta classe A, que só consumiria no exterior ou “do” exterior.
Outro fato digno de nota é que os “formadores de opinião” realmente conseguiram acuar a classe B, fazê-la sentir vergonha de si mesma e alardear que os integrantes deste extrato social são impermeáveis ao novo – seja na música, na TV ou mesmo em hábitos de consumo.
É óbvio o volume avassalador de consumo da emergente e ansiosa classe C, mas a envergonhada classe B ainda empresta prestígio ao produto consumido – por mais que se queira negar ou menosprezar – tal qual a classe A o fez, em passado mais distante. Se não, por que motivos jogadores de futebol ou pagodeiros tomariam, como primeira providência, simbolizar sua ascensão social com os ícones – carros, joias, celulares, baladas – desta mesma e tão criticada classe?
A classe B está viva, está aí, à espera de um visionário que a redescubra e acredite no óbvio: seu poder de consumo. Evidentemente, por se tratar de um público mais exigente, o custo de produção daquilo a eles destinado será bem maior. Mas os lucros, igual e proporcionalmente, também o serão.

E para você que é classe B, não se envergonhe disso: manifeste-se, exija ver-se representado na TV, na política, nas rádios, nas lojas, na noite!

A classe B unida jamais será vencida!

Walter Biancardine