Eleições blasé
E finalmente o dia 7
chegou e já passou.
Sim, porque o dia de votação dura apenas até as 17 horas. Depois, tudo
para até que se venha com a mensagem, boa ou ruim para alguém.
A eleição de Prefeito
em um município realmente não me passa despercebida. São milhares
de pessoas pelas ruas, clamando ou fingindo, não sei. Por um futuro
incerto e que talvez sequer às envolvam ou às tenham inclusas na
nova máquina, que está já formada ou para se formar.
Ainda assim, de uma
forma muito especial, me emociona. É com sonhos que estão lidando;
é com o futuro das crianças, de idosos e dos que estão ou não
envolvidos com esse tão cobiçado jogo de poder.
Tal como diz a canção
de Dominguinhos, “ Olha quem tá fora quer entrar, mas quem tá
dentro não sai “. É bem por ai a sensação.
Quando o Prefeito da
cidade que eu estava chegou, carregado nos braços por homens que,
esperançosamente, aguardam uma mudança drástica em suas vidas e
que - de uma forma cruel - não irá acontecer, eu me emocionei. Não
pela cena, mas pelo que envolve a cena.
Reparei pessoas com
lágrimas nos olhos, pela vitória de um governo que já estava
atuante e nada fez pelos mesmos; vi gente chorando pelo Prefeito que
não entrou e, por um instante, fiquei confusa pensando em como uma
mudança de governo, em uma cidade pequena, influi tanto na vida e
sonhos de uma família.
Imaginei o pai dele
emocionado, junto com os familiares, sinceros ou não, que agora tem a ele para se orgulhar. Imaginei centenas de mulheres com família
grande e que receberam uma miséria por semana para segurarem placas
com seu número, no sol quente, para poderem comprar mantimentos.
Pensei em amigas, que dependiam daquela vitória para permanecerem
estáveis, pensei em mim - que nada tinha a ver com aquilo e nunca
precisei de política para traças minhas metas de vida e,
definitivamente, não sei dizer se isso é bom ou ruim.
O dia da eleição em
algumas cidades é quase que um carnaval. Abadás sem números,
camuflando a campanha irregular, desfilavam pelas ruas como uma
marcha em busca de um poder transferível, um poder que sequer vai
chegar à despensa de quem o empunhou e mesmo brigou por isso. É
como se a idade média tivesse se incorporado ao século vinte e um,
todos amigos, mas num dia de rivalidade, onde quem tem - ou compra -
a maioria, tivesse o maior exército por quatro anos.
Ainda fico confusa
quando penso nas sensações que presenciei, talvez pela
incredulidade que tenho sobre tudo isso. Fui à minha sessão, votei
tranquila e fui para outra cidade para acompanhar de longe o que
acontecia na minha e absorver com menos fervor o que se desenrolaria
na outra.
Sei que é incrível
analisar de longe o sincretismo que ainda envolve os cidadãos e
cidadãs de uma cidade. Ponderar que a mudança pode realmente vir,
que suas vidas podem mesmo evoluir com o novo homem que irá às
representar na próxima gestão. Para alguns, isso representa
portarias novas para a família e uma tranquilidade durante quatro
anos - algo incerto, mas quem hoje em dia pode se dar ao luxo de
pensar quatro anos a frente? Numa sociedade em que damos graças a
deus por sobreviver no hoje, talvez seja lucro garantir os cinquenta
reais da boca de urna que - na verdade - não, não acabou, a
portaria que negam que darão, mas que sabemos que será distribuída
como ticket leite, ou mesmo que o candidato apoiado não vença.
Ainda assim, quem sabe valeram a pena os duzentos reais semanais, o
carro emprestado pra tirar onda com os amigos, ou até mesmo a foto
com o candidato vencedor...mesmo que você não consiga outra durante
os próximos quatro anos?
Eu não saberia
responder se acredito na mudança, até porque aprendi muito cedo que
a responsável pelas mudanças em minha vida sou eu mesma.
Eddylene Água Suja resolveu escrever mais sério em sua estréia no Opinião e dispensa apresentações. Se você não conhece, não é da Região dos Lagos.