Sete anos depois o Opinião reverencia seu padrinho e pede a colaboração dos fans do roqueiro
Em novembro de 2009
chegava ás bancas o primeiro número do Jornal Opinião, com a
proposta - já naquela época - de jogar um pouco de ar fresco em um
momento da sociedade que, infelizmente, perdura até hoje: são os
dias cinzentos, os quais ainda vivemos sob uma “liberdade”
hipócrita e vigiada pelas patrulhas ideológicas ou, no sentido
oposto, pelo fundamentalismo religioso.
O resultado disso já
alertávamos na ocasião: censura, e é o que ocorre hoje na prática,
onde calam-se as vozes discordantes através dos Tribunais e sob
perfeita aparência legal, sem prejuízo dos linchamentos morais das
redes sociais aos que destoarem da bipolaridade que aceitamos como
padrão: o divisionismo do ódio pela esquerda ou o moralismo carola
dos religiosos.
Na atual conjuntura,
onde até anúncios de fraldas infantis sofrem a indefectível tarja
embaçada por sobre os pobres piu-pius das crianças ou bonecos
ostentando cabeleira black power são taxados como racistas, cremos
ser - mais do que nunca - válido o brado de alerta de nosso
entrevistado, o qual reproduzimos aqui tendo em vista a recente
“redescoberta” do Pai do Rock pela grande mídia.
Serguei precisa
de ajuda
Segundo uma
surpreendente sucessão de matérias publicadas pelo O Globo,
“Serguei, apelido dado a Sérgio Augusto Bustamante, 82 anos,
considerado o roqueiro mais antigo do país, passa pelo momento mais
difícil de sua vida. Ele ganha R$ 880 (bruto) de aposentadoria, além
de uma ajuda de custo de R$ 1.200 da prefeitura de Saquarema, cidade
do Rio de Janeiro onde mora, para manter o Templo do Rock.
Assim como a
maioria dos aposentados do país, o dinheiro mal dá para pagar seus
remédios, que custam mais de mil reais mensais. O lendário Serguei,
conhecido por ter ido ao Festival de Woodstock e ter virado amigo de
Jimi Hendrix e Janis Joplin, tem passado até fome, segundo amigos.
Aliás, eles estão fazendo um mutirão para recuperar o acervo e o
casarão onde o roqueiro mora. Mas ele precisa de mais ajuda”.
De
acordo com a matéria, publicada no Blog do Anselmo,“Serguei
poderia ser garoto-propaganda de motos ou até, quem sabe?, de um
estimulante sexual. A gente abre a geladeira dele e só tem água”,
conta o produtor Rogério Silva, que tenta arrecadar dinheiro para
fazer um filme sobre o cantor, “O último beatnik”, a ser
estrelado por Eriberto Leão”.
Contra
os aproveitadores
Diego Brisse,
guitarrista do Serguei, falou a respeito da matéria divulgada no
jornal O Globo :
"Pessoal,
cuidado com algumas informações que podem estar veiculando por aí.
Infelizmente eu devo me abster de comentar certos fatos para evitar
conflitos estapafúrdios. Fato é que o Alex da Banda Serguei
Pandemonium sempre ajudou muito o Serguei, e a banda sempre apoiou
ele em diversos projetos.
Resgatamos o
material autoral dele, fizemos um cd novo sem nenhum patrocínio, com
dinheiro do nosso bolso, fizemos um esforço descomunal para
levantarmos a carreira dele e depois que ele começou a aparecer,
vieram muitos oportunistas.
Tudo que fizemos
pelo Serguei foi de puro coração, nunca nos beneficiamos
financeiramente disso, sempre demos total apoio nos projetos dele,
fomos muito mal tratados por diversos produtores de show e tv e
sempre aturamos porque queríamos ajuda lo. Nós também estamos
cientes das verdades e vamos intervir em benefício do mesmo se for
necessário."
Se
você também é fã do bom e velho Serguei, não deixe de ajudar.
Para
encontrá-lo é fácil, basta ir ao Templo do Rock, em Saquarema, e
deixar diretamente lá a sua ajuda!
O
Jornal Opinião vai voltar ao Templo em busca de mais informações
sobre como dar uma moral ao nosso amigo via internet ou outros meios,
e publicaremos sem falta na semana que vem.
Aguarde!
Veja
abaixo a matéria, publicada no número de estreia do Opinião, em
novembro de 2009:
Serguei: “Nunca fomos tão
caretas”
Uma
conversa descolada sobre um mundo cinza
Serguei
filosofa e diz que a sociedade regrediu
Foi preciso a
revolução dos costumes feita na década de sessenta e um governo
civil tomando posse nos anos oitenta para que muitos jovens atuais
passassem a usar os cabelos com corte militar.
Foi preciso uma onda
mundial de “fazer pelas próprias mãos”, o artesanato, a
plantação de comida e as comunidades para que o sistema se sentisse
profundamente ameaçado e criasse os “hippies de boutique”, logo
depois os “youppies” e fizesse com que hoje a maioria da
juventude elegesse o dinheiro, o consumismo e a carreira como
aspirações supremas.
Foi preciso surgir o
amor livre para que parcela significativa dos recém saídos da
adolescência optasse – por livre e espontânea vontade – pela
virgindade até o casamento e resgatassem hábitos machistas.
Foi preciso o fim do
sonho comunista – mostrando ao mundo sua dura realidade – para
que quase a totalidade destes mesmos jovens enxergasse a política
sob uma ótica cada vez mais reacionária e descrente, travestida de
pragmatismo.
Vivendo em um mundo
onde o lema “Paz e Amor” desperta nas pessoas apenas sorrisos
condescendentes de quem escuta uma utopia enquanto procuram se
desviar de balas perdidas e gangues espancando inocentes em boates,
Serguei – um verdadeiro retrato congelado de uma época – se
espanta e abre o verbo sobre o que acha desta juventude, que um dia
tentou mudar o mundo e hoje acha normal linchar garotas por
considerarem suas roupas “indecentes”.
Com vocês leitores,
o garotão Sérgio Augusto Bustamante, 76 aninhos (N. do R:
entrevista feita em 2009) mas com um corpinho de 75 e a disposição,
energia, indignação e sonhos dos vinte e poucos anos; o
conhecidíssimo Serguei, que hoje ostenta o honroso título de “Lenda
Viva do Rock Nacional”.
Caretice geral: o
computador
Serguei: “O
bacana de você andar assim, conhecer uma pessoa, é andar pelas
ruas; você não foi apresentado mas você bate os olhos, eles se
comunicam, a emoção vem, entendeu?, na hora, assim: então você
fala, você se abre...essa garotada é incapaz de falar, eles já
perderam isso. Para tudo eles usam o quê? Um computador. Querem dar
uma trepadinha, vão trepar com o computador...querem chorar, choram
vendo as coisas do computador, querem rir...pô, o riso, o sorriso, a
lágrima, tudo isso é emoção...a expressão facial, que não têm
nenhuma. Pô, eu falo, digo isso assim, assim e assim (gesticula)
e...outro dia eram quatro rapazes e eu fiz assim (bate palmas): -
Hei! Falei: “Bicho, vocês só fazem assim (balança com a cabeça
positivamente e negativamente)? Aí um sujeito atrás disse: eu sou o
pai deles, você não sabia que essa geração é assim, Serguei? Eu
disse: infelizmente, entendeu? Não há mais nada praticamente a se
fazer, depois do que foi feito na década de sessenta. Você tinha a
liberdade de tomar decisões.” (sic)
Caretice geral 2:
look e comportamento
Serguei:
“Voltaram a cortar os cabelos fazendo o pé...não há nada mais
nojento do que isso. Engraxam os sapatos, fazem vinco nas calças!
Bicho! E dizem que são envergonhados: ah, ele é tímido! Tímido é
o c*lho! Pergunta se na hora em que estão dando o c* lá ou fazendo
qualquer sexo, ou comendo ou que diabos que seja, não interessa,
pergunta se eles são tímidos! Aliás (risos), eu tenho provas de
que, de tímidos, eles não tem nada...teve um sujeito um dia que
chegou pra mim e disse: 'Serguei, quero te chupar'! Eu disse, 'tudo
bem mas outro dia, outra hora porque agora estou correndo pra pegar o
ônibus'! Dois dias depois ele me achou de novo, e insistiu com os
olhos arregalados: 'Vem cá, você come c*?' Respondi: 'Olha, eu como
alface, como manga – que eu adoro manga – sorvete...' (risos).
Pra você ver como eles são diretos agora. Dão beijos na boca, isso
é ótimo...escandalosamente! Eu fiz um show na Up, lá em Campo
Grande, no Rio de Janeiro, e estava cantando no palco, pulando e
tal...quando eu estava saindo, um cara sentado numa mesa com garotas,
garotões, jogou a cabeça assim pra trás e me pediu: 'Serguei! Me
dá um beijo na boca!'. Depois, no camarim, ele voltou pra pedir um
beijo mais legal...quer dizer, não tem mais o chaveco, perderam
isso, que era o principal. Hoje é mecânico, direto.”
“Todo
mundo gosta de sexo, bicho.
Não
tem um que não goste!”
Sexo: o dia em
que Serguei comeu a samambaia – que não era samambaia
Serguei: “Eu
tô numa forma física, por assim dizer, esplendorosa. Eu conto essas
sacanagens e me excito, tu acredita nisso? (bate na madeira) Agora,
eu acho isso um exagero. Não é um exagero? Eu acordo de manhã, às
vezes até de madrugada, naquele estado. Vou até lá fora, olho pra
um lado, olho pro outro, ninguém! Digo: pô, que merda! Aí volto e
tenho que dar meu jeito (risos). Quer dizer, acho que tô mais do que
legal! Todo mundo gosta de sexo, bicho. Não tem um que não goste de
sexo! Se bem que hoje tem esse tal de sexo virtual, no computador. É
tão horrível que não merece...não tenho nem opinião pra definir
isso! Bicho, é melhor o sexo por telefone, porque pelo menos você
escuta a voz, e tal...pra você ver: um dia eu vinha andando, um sol
quente, e tinha um cajueiro na beira do caminho. Me deu um tesão,
meu (*) levantou, queria fazer alguma coisa com alguém e não
encontrava – não passava ninguém...passou um cachorro velho, mas
eu não ia comer o cachorro, pô. Aí eu ia andando e encostei numa
árvore – o cajueiro, grande, frondoso. Aí tirei pra fora e
comecei sozinho. Na hora de gozar, a perna tremeu e eu me abracei ao
cajueiro. Onde eu ia me agarrar? Me agarrei na árvore! Aí, na
entrevista que dei ao Jô Soares, ele perguntou: 'Bom, então você
comeu a árvore?' Aí eu disse assim: 'É Jô, comí...' A pergunta
merecia essa resposta. Só não sei por que depois vieram dizer que
foi com uma samambaia, não sei de onde tiraram isso. E eu ironizo
tudo, mesmo...no Brasil, se não ironizar ninguém aguenta. Se não
ironizo, tô f*dido, vou ficar doente.”
Drogas:
Serguei:
“Droga é uma droga, uma merda...você fica com os olhos inchados,
vermelhos, você fica rindo à toa, que nem um babaca, o outro com o
olho arregalado, com a bunda pra dentro... 'é...qualé...o que
é...?' Bicho, eu não tenho como falar disso. Eu dei um esporro na
Janis (Joplin) uma vez...ela tava no banheiro, cantando...aquela voz
que todo mundo conhece, e com a mesma emoção. Quando ela saiu, nua
com uma toalha jogada no ombro, ela abriu a porta e eu disse: 'Vem
cá, tô aqui observando você o tempo todo, te ouvindo. Que
maravilha...mas por que você usa essas merdas? Isso vai levar você
muito cedo do convívio da gente'. Ela olhou pra mim e disse assim:
'Sergei, nobody plays that game on me', ou seja, 'ninguém me força
o jogo', por assim dizer. ( N. do R: 'Ninguém faz esse joguinho
comigo') Eu disse, 'você sabe o que faz, então f*da-se'. E
aconteceu o que aconteceu...”
(pequena pausa para
um cochilo de alguns minutos do entrevistado)
“Bicho, cuidado
comigo que as vezes eu durmo...eu ontem fiquei dois dias sem dormir.
Tava falando com a Beth, minha amiga, pelo telefone. Estava sentado
naquela cama, que é no chão, e enquanto eu falava, cochilei e batí
com a cabeça no chão.”
Rock and Roll:
Serguei: “O
Rock começou na minha vida ainda nos anos 50. Estive em Paris,
conheci Juliette Grécou, sabia o que estavam dizendo dela, que ela
era escriturária e saía que nem uma louca depois do serviço com
uma porção de rapazes e moças, todos vestidos de preto, iam pros
porões do Quartier Latin tomar drink, tomar café, eram os beatniks
(N. do R: Juliette Grécou foi uma cantora francesa que se tornou uma
espécie de “musa” dos existencialistas, tendo se apresentado
inclusive no Brasil), e depois dos beatniks vieram os hippies. E aí
eu me encontrei.”
Rock and Roll 2:
o Templo
Serguei: “A
casa antiga não era minha, era de um cara daqui, comerciante, e quem
me deu essa nova aqui foi Russel Coffin, um dos grandões da
Coca-Cola no mundo. É um cara com dinheiro, tem como fazer, trabalha
com ecologia, pássaros, florestas, tem vários hectares na floresta
em Santa Catarina, que ele protege. Essa casa aqui ele que mandou
construir pra mim, tudo à prova de som, tudo. A prefeitura na época
deu o terreno e ele mandou construir. No dia da inauguração eu ví
ele com milhões de papéis, assinando aqui, ali, e disse que a casa
é minha. Eu disse, 'então tá bom'. Se alguma coisa estranha
acontecer, eu daqui não saio, aqui é minha casa, minha vida, e eles
não me desonrariam nessa altura de minha vida. Eles vão ter que me
aturar, e eu sou bem enjoado...mas eu acredito no caráter deles,
acredito que a casa seja minha.”
“...O
movimento social que mudou a cara do mundo(...)
Hoje
em dia, infelizmente, a gente viu traídos todos os seus princípios.”
Rock and Roll 3:
o sonho
Serguei:
“Minha casa é um museu histórico, que conta a história do Rock e
a época em que o Rock começou e explodiu. Conta a história da
geração hippie, da qual eu sou um dos últimos, principalmente pela
filosofia (e mostra dois livros – On the road, de Jack Kerouac, e
Howl', de Allen Ginsberg). Eu sempre vivi nisso, eu vivi todas as
revoluções da década de 60, entendeu? Todas aquelas maravilhas, o
movimento social que mudou a cara do mundo. Beatles, Rolling Stones,
os concertos, proclamavam a liberdade, a paz e o amor pelos
parques...isso foi a coisa mais importante que aconteceu no mundo.
Hoje em dia, infelizmente, a gente viu traídos todos os princípios
de vida, o sonho – de uma certa forma – acabou, embora ainda
existam remanescentes como eu. Mas posso dizer que esse sonho, ele
foi vitorioso, e fechou com o concerto de Woodstock, reunindo mais de
um milhão de pessoas. Ali, toda a razão de existir, o sentimento de
liberdade, tudo isso provou estar implantado, mas o movimento em si,
a partir dali, foi declinando. Aí começou a mediocridade, a falta
de autenticidade (nas propostas), começou tudo a se misturar. É
como a Bíblia: você lê e entende de um jeito, eu leio e entendo de
outro, cada um dá a sua versão. A versão que eles deram foi a pior
possível: ficaram contra tudo o que foi feito e quiseram mostrar a
versão deles, feia, pequena, medíocre, inexpressiva, estúpida. E
nosso Cazuza resumiu muito bem: 'ideologia, eu quero uma pra
viver'...Cazuza querido, do coração! (e faz um gesto de quem manda
beijos ao céu) Falta as pessoas terem uma liberdade mais
inteligente, mais prática, e não ficarem como quase a totalidade
dos brasileiros, pendurados num chavão ridículo: 'os portugueses
nos exploraram, nós somos tão bonzinhos...' Fomos! Fomos! Passado
do verbo! Não somos mais! Hoje as pessoas vivem sem horizontes, elas
vivem o momento, mas um momento muito escroto. Não há um propósito
de vida, aquela coisa de 'vamos fazer', entendeu? Acho que já
encontraram pronto. E, se não estiver pronto, compram no shopping
fazendo sempre a pior escolha.”
Pela milionésima
vez: como Sergei comeu Janis Joplin
Serguei: “Que
saco! Quem me apresentou tá ali, ó, no retrato na parede: Oliveira,
percussionista da banda Chicago. Ele era amigo da Janis e me
apresentou nos EUA. Tinha uma festa de escola e eu levei minha banda,
Centauro. Ela vinha descendo uma ladeira vestida de cigana e ele me
apresentou: 'Sergei, Ms. Janis Joplin'. Meu queixo caiu e eu fiquei
rindo, brinquei perguntando se não era Jackie Kennedy. Ela riu e
depois ficou séria. E me deu um beijo. Aí depois ela veio ao
Brasil, mas me perguntar datas, lugares...é uma certa maldade
(risos). Aqui no Brasil, a gente estava na Avenida Copacabana e ela
me pediu uma caneta. (Interrupção provocada pelo cachorro Nick, que
fuçou a lata de lixo) Aí eu dei e ela escreveu uma dedicatória na
calça, na altura da coxa. Guardei aquela calça até hoje, como
relíquia, mas muitos anos depois minha mãe achou ela nas minhas
coisas, viu que tava suja e botou pra lavar! Perdí a dedicatória!
Mas a calça tá ali, na parede.”
“Viver
é difícil, e a vida é curta.
Então,
bota pra f*der!”
Shows:
Serguei: “Eu
estou voltando de Belém do Pará, onde sou padrinho dessa campanha
(mostra a camiseta) 'APAVERDE – Salvar o planeta é uma tarefa de
todos nós', e todos os anos tem isso e eu vou lá, fazer um show.
Estava lá a Mulher-Moranguinho! Tão bonitinha! Ela tem um rosto
lindo! Tava aquela outra, que foi mulher daquele cantor, o Latino...a
Kelly Key, e ela tem um programa na TV Record, e ela me entrevistou
no camarim dela. Acho que é um programa pra crianças, ela falou
'crianças, é o Serguei!'
(Nova interrupção,
desta vez pelo cachorro Nick, que entrou de focinho na barriga do
entrevistado, pedindo comida)
Eles tem uma vida de
rei aqui...todos vacinados, com muita água, comida, carinho...Nick,
sai daí! Ele foi pra cozinha...vai comer alguma coisa que tá
lá...ai meu Deus...essa é a entrevista mais underground que eu já
fiz...!
Agora você vê que
maravilha...as pessoas tem que sair dessa mesmice. Jovem cabeça,
como você é, tem que prestigiar esse tipo de atitude...(bate
palmas) acorda! Acorda! Viver é difícil, e a vida é curta. Então,
bota pra f*der! Mostra sua opinião, senão...(risos) tem que comprar
esse jornal, pra de repente ouvir essas coisas! Mostra sua opinião,
diz o porque...que também não é todo mundo que merece uma opinião,
uma idéia, uma explicação. E pronto! Mete a cara e vai em frente!
Se alguem vier criticar alguma coisa, que critique por si mesmo. Não
pela nação, que a nação não faz nada pela gente.”
Living in the
USA:
Serguei:
“Minha avó achava que minha educação não tinha de ser feita
aqui no Brasil. Ela dizia: 'vocês são burros, incompetentes e
preguiçosos. Vocês tem nas mãos um continente e nunca fizeram
acontecer coisa nenhuma'. Minha avó era americana, e fazia a
comparação: 'olha nós aqui e olha vocês lá'. Os garotos me
perguntavam, no colégio: 'vem cá, naquele teu buraco lá na América
do Sul, vocês pensam com os pés, não é?' Aí todo mundo aplaudia
o cara. O Brasil é bonito, tem grandes potencialidades, mas nunca
aconteceu mesmo. Quer dizer, minha avó tava certa.”
Política:
Serguei: “É
igual a esse oba-oba em torno do Lula: acho muito carnaval, mas
preciso te confessar uma coisa, que eu tenho medo de que ele saia.
Porque eu não sei qual equipe econômica vai vir após ele, certa ou
errada, essa equipe conseguiu colocar o Brasil muito bem colocadinho,
a situação de hoje não é a de antes. Aquele batom vermelho,
escandaloso, só pode ser usado por uma mulher linda, cheia de curvas
e fazendo vários charmes com o corpo. Não pode ser uma matrona
horrorosa. E o batom vermelho aí seria usado pelo Brasil, que é uma
nação feia, politicamente. Então, pintar a boca do Brasil com esse
batom vai ser um horror. Teria que ser um Brasil mais forte, porque
hoje o país não pode ter o que quiser, como os países
desenvolvidos. A democracia é para os Estados Unidos da América do
Norte!, e não para quem quer. Nós não merecemos democracia,
estamos completamente despreparados! Nós sequer sabemos o que
queremos. E não existe nação sem povo. Temos uma bandeira em que
tá escrito 'Ordem e Progresso', onde 'ordem' vem antes da palavra
'progresso'. Por que? Porque já se sabia naquela época, há um
milhão de anos atrás, que não existe progresso sem ordem, cacete!
Por que não temos progresso? Porque não existe ordem! É um
corredor de loucos, onde ninguém se entende. O Brasil é um lugar
onde todos roubam todo mundo o tempo todo! E pelo poder da televisão
e do rádio, mostrando, falando, denunciando, o povo vai ficando
desapontado e chega a um ponto que já vai ficando safado também!
Dizem: 'Ah, é? Então vou roubar também!'. Então, a democracia é
para os povos mais civilizados.
“Nós
não merecemos democracia, estamos completamente despreparados!
Nós
sequer sabemos o que queremos.”
Serguei: “O
Brasil é um país lindo, mas como nação, não existe. Só São
Paulo que escapa, a única praga é ser mandado por Brasília. Se a
revolução de 1932 tivesse dado certo, eu teria apresentado meu
passaporte pra pedir cidadania paulista. Aqui em Saquarema pediram
uma vez pra eu ser candidato a vereador, eu disse que ia ser, eu vou.
Eu ia de sunga, meião e tênis. Esculhambava todo mundo e voltava
pra casa. Ganhei 280 votos e eu disse: agora eu saio e deixo o
suplente, que eu não quero assumir porra nenhuma, então não tem
nada a ver comigo essa de política. As pessoas são muito
engraçadas...a política partidária, é tudo muito burro! Aquí em
Saquarema, por exemplo (risos)...eu tenho que rir...existe um
deputado que é o que faz tudo pela cidade, e é amigo do Lula, é do
PMDB, é colega, amigo do Governador, pega as coisas, as coisas vem
pra cá, o dinheiro, as obras a serem executadas, então é o
seguinte: o prefeito, governador, presidente de qualquer país, nada
mais são que os homens do escritório. Homens ou mulheres, no caso
daqui é uma mulher. Então tudo bem, é bonitinha, simpática, tem
um sorriso, é inteligente, e ela tá entrando na vida política...ela
tem uma certa competência, mas ela é a 'mulher do escritório'.
Como Bush (EUA) era o cara do escritório, o presidente, prefeito não
sei da onde são pessoas do escritório. Tem que despachar, pedir uma
influência política, se vale a pena despachar aquilo favorável ou
não, entendeu? Então eles são os caras do escritório, não fazem
política, isso quem faz é o político. Ele faz todas aquelas
coordenações, aquelas coisas, e consegue todo esse progresso que
tem conseguido para a cidade. Aí o povo vai e vota num outro rapaz,
que tinha problemas sérios com o Ministério Público. Ele poderia
ser a pessoa que fosse, mas não poderia ser candidato a coisa
nenhuma, pois se o MP tava processando o cara, como é que esse mesmo
Ministério, ele entende – agora pegaram essa mania: eles
'entendem'. Ah, porque o Juiz 'entendeu'...mas eu também entendi, só
que ao contrário do que ele está dizendo, porra! Então o MP
'entendeu' que ele pode se candidatar, mas se ele ganhar não assume!
Bicho, isso parece aquelas comédias de circo! Aí o cara se
candidatou e o povo daqui votou nele e não na mulher esposa do cara
que faz a política pra trazer o dinheiro, executar as obras em
Saquarema! O povo não votou porque tinha fixação nesse outro
homem, sabe aquela coisa bem 'Sulamérica'? 'Este señor, Getúlio
Vargas, Perón'...entendeu? O povo adora esse tipo de coisa! O povo
vive o 'homem', o povo tem ícones políticos. Isso foi uma prova de
estupidez extrema, burrice. Tem que atrair quem tem o dinheiro, quem
tem o poder, quem tem amizades, que aí as coisas chegam! Prefeitos,
essas coisas, eles são representativos, embora participem. Eles são
apenas os 'caras do escritório'. E o resto? O resultado foi que o
cara ganhou mas não entrou, e aí veio a prefeita.”
“O
povo vive o 'homem', o povo tem ícones políticos.
Isso
é uma prova de estupidez.”
Imprensa:
Serguei:
“Graças à Deus ainda leio jornais. Não tem nada melhor. Eu não
fumo, mas quem fuma acorda, vai na banca de jornal, compra um e volta
pra casa. Fica lendo, fumando e tomando café quentinho – ou suco
de laranja, ou champagne, o que preferir. Mas o babaca, o imbecil,
senta o c* numa cadeira, liga a máquina de escrever com tela, bate
nas teclas e fica olhando...quer dizer, é o mau uso do computador.
Se usar pra decisões ou pra adquirir conhecimentos, maravilha! Mas
ficar assim igual a um babaca, os pais...aliás, os pais são
culpados de tudo. Caráter, comportamento, isso tudo vem de casa e
não da escola. Escola se aprende que 2 e 2 são 4, mas assim mesmo
tem uns professores que dizem que não (risos), que é outro
resultado...Existe muita sacanagem na imprensa, mas ela é livre!
Pelo menos isso! De maneira que você tem acesso às palavras...que
são as coisas mais importantes da vida, não é não?”
Paz? Amor?
Serguei:
“Outro dia o governador do Rio estava no programa do Datena e disse
que, no Brasil, os estados deveriam ser autônomos. Na mesma hora
entrou a vinheta e veio uma mulher falar de sexo! E o cara sumiu. Se
isso não é censura, não sei mais o que é. Aí depois o bandido
pega um foguete e bota um helicóptero abaixo. Bicho, onde estamos?
Eu não sei! Depois dessa, não entendo mais nada! Cadê a
autoridade? A verdade é que quem manda no Brasil é o crime, porque
é organizado. Por isso o nome: 'crime organizado'. Os caras mandam!
Bicho! Os caras mandam!
“Imagine
se, nos EUA, derrubam um helicóptero
e
o Governo não se pronuncia?
Vergonha
mundial!”
Tanto mandam que, se
não fosse assim, não iam derrubar um helicóptero da PM, ou mesmo
civil. Aí saíram pra procurar no morro o desgraçado que fez isso.
Só que o desgraçado já sumiu, não vão encontrar e acabou! E se
encontrarem, logo depois o morro volta a ficar igualzinho a antes.
Imagine se em Washington, Miami, ou o que for, lá nos EUA, um
bandido derruba um helicóptero seja de quem for, e o governo
americano não se pronuncia e nada acontece: meu Deus do céu!
Vergonha mundial! E aquí ninguém fala nada e está tudo bem, fica
por isso mesmo!
Cansei, sabe?”
Entrevista concedida
ao editor, Walter Biancardine, em outubro de 2009 no Templo do Rock -
Saquarema, RJ
Um pouco sobre o
ídolo:
SÉRGIO AUGUSTO
BUSTAMANTE (Serguei) 8/11/1933 - Rio de Janeiro
Cantor cuja carreira
artística sempre foi pontuada pela irreverência. Fez parte da Jovem
Guarda, da Contracultura e do Movimento Hippie. Artista irreverente,
irriquieto e ousado, sua primeira gravação - um compacto simples
pelo selo Equipe em 1966 - trazia as composições "As
Alucinações de Serguei" e "Eu Não Volto Mais", com
acompanhamento do grupo The Youngsters. Serguei foi amigo pessoal de
Janis Joplin e Jim Morrison quando, por alguns anos, morou nos
Estados Unidos.
Sua discografia é
bastante heterogênea:
1966 - As
Alucinações de Serguei-CS-Equipe
1968 - Eu Sou
Psicodélico -LP-Continental,
1970 - Ouriço -
CS-Polydor,
1972 - Alfa Centauro
– CS - Orange,
1975 - Psicodélico
– CS - Groove Records,
1979 - Serguei-
Samba,Salsa – CD -Arlequim,
1983 - Hell's Angels
do Rio - CS - Fermata,
1984 - Mamãe Não
Diga Nada ao Papai -TopTape
1991 - Coleção de
Vícios - LP-RCA-Victor,
2002 -
Serguei-Coletânea – CD - Baratos Afins.
2009 - Bom Selvagem
– CD – Blues Time Records
Estudou teatro com
Paschoal Carlos Magno e atuou no filme "Toda Vida em Quinze
Minutos". Também participou da segunda edição do Rock in Rio
em 1991 e no ano de 1997 foi lançada a sua biografia "Serguei,
o Anjo Maldito", autor João Henrique Schiller, pela CZA
Editora.
Kid Vinil assim o
definiu:"Serguei é um outsider do rock nacional."
Filho único de um
executivo da IBM, Domingos Bustamante, e da dona de casa Maria. Na
infância, teve um amigo russo que lhe chamava de "Sergei"
("Sérgio" em russo), porque tinha dificuldade em
pronunciar seu nome corretamente, por isso o apelido ficou. Aos 12
anos, foi morar com Lia Anderson, sua avó materna, em Long Island,
Nova Iorque, onde participou de festivais estudantis. De volta ao
Brasil, em 1955, trabalhou no Banco Boavista (onde foi demitido), e
depois como comissário de bordo na Loyd Aéreo, Cruzeiro do Sul,
Panair e Varig, sendo também demitido após uma bebedeira em Madrid.
Voltou aos Estados
Unidos onde começou sua carreira musical. Em 1969, esteve no famoso
Festival de Woodstock , e no final deste mesmo ano, o cantor afirma
ter conhecido a cantora americana Janis Joplin, em Long Island, um
dos motivos pelo qual ficou conhecido. Em 1972, de volta ao Brasil,
foi morar na cidade de Saquarema, no Estado do Rio de Janeiro, onde
vive até hoje.
Serguei fez shows em
duas edições do Rock in Rio: Rock In Rio II (1991) e Rock In Rio
III (2001); fez também aparições como espectador no Rock in Rio IV
e Rock in Rio V. Nos últimos anos, o cantor tem participado de
diversos programas na televisão. Em 2011, participou de alguns
quadros do programa Show do Tom, da Rede Record; e em 2012, foi
entrevistado por Danilo Gentili no programa Agora é Tarde. Serguei é
um dos artistas que mais teve convites e aparições no Programa do
Jô, apresentado por Jô Soares, de quem é grande amigo.
Em 2011, o Multishow
produziu o programa "Serguei Rock Show", que contou com 10
episódios, e a participação de roqueiros como Rogério Skylab e
Zéu Brito.
Considerado o
roqueiro mais antigo do Brasil, Serguei faz shows até hoje ao lado
de sua atual banda, a Pandemonium, que o acompanha desde 2008. É
considerado cantor oficial do grupo Hells Angels (motoclube
internacional).
Em abril de 2013,
sentindo fortes dores pelo corpo, Serguei foi internado no hospital
Nossa Senhora Nazareth, no Rio de Janeiro. Voltou para casa após
alguns dias, mas duas semanas depois retornou, passando mais dois
dias internado. Ao ser liberado novamente, declarou estar tomando
remédios e querer voltar a fazer shows, pois já se sentia bem.
Em sua residência,
na cidade de Saquarema, foi criado o "Museu do Rock",
administrado por Serguei, constituído com peças de roupas, discos,
prêmios, livros, cartazes, filmes em VHS e outros materiais sobre a
vida do cantor. Sua residência é um ponto turístico da cidade.
Em 2009 concedeu a
entrevista acima, na estreia do Opinião, e acabou por tornar-se o
padrinho e muso inspirador do jornal.
Em 2010, a
prefeitura de Saquarema fez uma ampliação em casa, reformando-a.
O Templo do Rock é
considerado um local histórico na cidade.
Walter Biancardine