terça-feira, 15 de março de 2016

O GOLPE DENTRO DO GOLPE - Presidente do Senado ensaia semiparlamentarismo e proposta se transforma em presente para Lula


Com o incrível aval da presidente Dilma Rousseff, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu articular a votação de uma proposta que reduziria os poderes da atual mandatária. A saída pelo semiparlamentarismo, calcula, permitirá à petista se manter no cargo sem ser afastada definitivamente pelo impeachment, que tende a ganhar impulso após os protestos do último domingo e é incrível pelo fato – inédito – de um presidente da República voluntariamente abrir mão de seus poderes em pleno exercício do cargo.

A sugestão, que foi discutida numa reunião a sós entre Renan e Dilma recentemente e revelada por ele a aliados próximos após a convenção do PMDB, preservaria o mandato da petista como presidente, mas deixaria a administração para um primeiro-ministro, o qual agora é abertamente apontado: Luis Inácio Lula da Silva, que está para ser premiado com o salvador cargo de ministro.
Esse posto, tradicionalmente ocupado por um parlamentar, teoricamente ficaria com o vice-presidente Michel Temer, dependendo da emenda constitucional aprovada, mas a ideia mostrou-se atropelada pelos fatos: a presença de Lula em um ministério significa já o exercício da presidência por ele, sem necessidade de emendas constitucionais e ao arrepio da lei.
Melhor: Lula ficaria com os bônus e sem os ônus.

A sugestão de Renan, entretanto, tem reduzidas chances de prosperar de imediato por dois aspectos, avaliam interlocutores. O primeiro, de ordem política: o desembarque do PMDB do governo, com aviso prévio de 30 dias, e os protestos do último domingo.

O segundo, de caráter legal, porque há dúvidas se uma proposta com esse teor, mesmo sendo uma emenda constitucional, poderia tramitar, uma vez que o Legislativo já rejeitou em 1993 em um plebiscito a mudança do regime de governo. O peemedebista, que ainda não fez uma avaliação pública dos protestos, considera o impeachment da presidente uma saída traumática, mas considera que ela ainda não capitulou. “Nem todos os cartuchos foram esgotados da parte dela”, afirmou a um assessor.

Os fatos mostraram que a munição de Dilma Roussef acabou. A lei agora é Lula, e se tal emenda for adiante futuramente, graças á força mensaleira de articulação do ex presidente, estaremos diante da fundação oficial da ditadura petista no Brasil – por que, na prática, já estamos nela.


Walter Biancardine